Formação superior dos jovens oriundos do campo:
uma trajetória em construção*
Yolanda Zancanella
1
http://orcid.org/0000-0002-6924-1078
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Brasil
DOI: http://dx.doi.org/10.17081/eduhum.19.32.2536
Recibido: 27 de julio de 2016 Aceptado: 05 de noviembre de 2016
Superior training of the young people of the eld:
a way through the construction
Resumo
O objetivo central trabalho é compreender o signicado da formação superior uni-
versitária para os jovens do campo dos cursos de Pedagogia e Geograa–licenciatu-
ra da Universidade Estadual do Oeste do Paraná–Unioeste, e para seus pais, a partir
das características atribuídas, por eles, a essa formação. Para tanto, analisa o modo
como os alunos advindos do campo se relacionam com produção do conhecimento
na universidade e a sua relação com a vida no campo. Nesse sentido a investigação
se congura em um estudo de caso. A pesquisa foi realizada através de uma abor-
dagem qualitativa
, fundamentada no método do materialismo histórico dialético.
No desenvolvimento da pesquisa foram entrevistados 13 acadêmicos do curso de
Pedagogia e 13 acadêmicos do curso de Geograa no período de março de 2014
a dezembro de 2014. Os resultados demonstram elementos das experiências dos
alunos sobre ser ou não no campo, e, suas perspectivas de carreira prossional por
meio da educação.
Abstract
The main objective of this research work is to understand the meaning of higher edu-
cation for young people and their parents in the eld of Pedagogy and Geography
courses-degree at the UniversidadeEstadual do Oeste do Paraná-Unioeste, departing
from the characteristics attributed to them,for this conguration. To this end, exam-
ines how students from the eld relate to production of knowledge at the university
and its relationship with country life. To this end the investigation has congured a
case study. The survey was conducted through a qualitative approach, based on the
method of historical dialectic materialism. In the development of the survey were
interviewed 13 people of the course of academic Pedagogy and 13 of the academic
Geography course from March 2014 to December 2014. The results demonstrate
elements of the experiences of students about being or not in the eld, and their
professional career prospects through education.
Palavras chave:
Jovens do campo, Ensino superior,
Formação.
Keywords:
Young people of the eld,
Higher education, Formation.
Referencia de este artículo (APA): Zancanella, Y. (2017). Formação superior dos jovens oriundos do campo: uma trajetória em
construção. En Revista Educación y Humanismo, 19(32), 110-125. http://dx.doi.org/10.17081/eduhum.19.32.2536
* Este artigo é um recorte de uma pesquisa mais ampla intitulada: Cursos Superiores Universitários: Formação de Educadores do Cam-
po, desenvolvida no Grupo de Estudos sobre movimentos, demandas sociais na educação e cidadania. Linha de Pesquisa Políticas,
Administração e Sistemas Educacionais, nanciado por la Universidad Estatal do oeste do Paraná.
1. Licenciada em Pedagogia e Doutora em Educação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Brasil. Professora no Curso de Peda-
gogia e Mestrado em Educação na mesma Universidade. yolandazanca@yahoo.com.br
A pesquisa qualitativa ou naturalística envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto
do pesquisador com situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em
retratar a pesquisa participante (Bogdan, Biklen, 1994).
educ. humanismo, Vol. 19 - No. 32 - pp. 110-125 - Enero-Junio, 2017 - Universidad Simón Bolívar - Barranquilla, Colombia - ISSN: 0124-2121
http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/educacion/index
111
Apresentação
Jovens do campo e a busca pela formação
superior
O interesse da sociedade pelo Ensino Superior
tem aumentado signicativamente nas últimas
décadas, merecendo destaque as discussões
sobre o acesso do jovem oriundo do campo a
esse nível de ensino em universidades públicas,
por meio de ações dos movimentos sociais do
campo, e, das políticas de ações armativas
dessa população até então, privada historica-
mente do acesso à educação, principalmente ao
topo escolarização.
Estudiosos no Brasil tem se debruçado sobre
a temática da trajetória de acesso à formação
superior na universidade os jovens do Campo
entre eles: Caldart (2002, 2003, 2004), Molina
(2004), Fernandes (2004), Arroyo (2003, 2004),
Paludo (2001), Kolling (1999), Jesus (2004),
Souza (2006, 2007, 2011), Frigotto (2010),
Munarim (2010) responsáveis ainda pela
discussão da renovação da educação do campo
em contraponto à Educação Rural, que referencia
essa população com uma concepção de pessoas
com necessidades assistenciais a serem supridas,
atendidas, contextualizando o espaço rural nos
documentos ociais como lugar de atraso.
Não seria diferente esse pensamento,
porquanto é pensado com base em uma lógica
economicista, distante da visão de um lugar
de vida, trabalho e construção de signicados,
saberes e culturas.
Caracterizado como um local para qual se
reportavam políticas compensatórias, ali crescia
a dinâmica da exploração capitalista com ênfase
no ingresso do agronegócio e na devastação
dos recursos e das riquezas naturais. Vigoraram
por muito tempo ações de depredação na
natureza e de concentração de riqueza, dotação
de latifúndios, prática de escravidão, exclusão
social e exploração dos mais fracos.
Na época em que a Educação Rural recebeu
atenção do Estado, o desenvolvimento de
políticas educacionais criou uma pedagogia com
práticas pertinentes ao ambiente rural. Nessa
linha, de discussão projetos foram desenvolvidos
para aplicação na Educação Rural, sendo interes-
sante destacar o apoio nanceiro de organismos
internacionais.
Embora os pressupostos do Estado buscassem
um direcionamento para o meio rural e as neces-
sidades educacionais, Molina (2004) explicita
que não havia prévio domínio de conhecimento
sobre as vivências, condições e características
do ambiente; deste modo, as medidas educa-
cionais tomadas para a Educação Rural tiveram
como base formativa a experiência e a vontade
dos proprietários de latifúndios, grandes empre-
sários que mantinham o controle político sobre
as terras e seus trabalhadores.
Da mesma forma, não poderiam ser diferentes
os resultados obtidos a partir de um modelo de
desenvolvimento que propicia a abertura de dois
leques: de um lado, acentuam-se questões de
educ. humanismo, Vol. 19 - No. 32 - pp. 110-125 - Enero-Junio, 2017 - Universidad Simón Bolívar - Barranquilla, Colombia - ISSN: 0124-2121
http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/educacion/index
Formação superior dos jovens oriundos do campo: uma trajetória em construção
112
desemprego e de trabalho no campo, com conse-
quente migração de seus membros para o setor
urbano; de outro lado, a reação da população
encaminha reivindicações ao processo exclu-
dente, leva-a a compor organizações e lutas
políticas, visando encontrar alternativas de
resistência de cunho econômico, político e
cultural, em paralelo às iniciativas que abrigam
a Educação do Campo.
E, se a Educação Rural tem a denição de seu
termo ligada diretamente ao trabalho, força de
trabalho humano, como objeto ou mercadoria,
ca centrada em um complexo mercadológico e
capitalista que traduz a educação no modelo de
formação para o trabalho. Entendida a Educação
Rural neste desenho, não está sendo considerado
o ser humano, o sujeito social, mas este se torna
apenas peça de uma textura que o desumaniza e
permite vê-lo como objeto.
No que se refere à relação jovem do campo e
o diploma do Ensino Superior entendemos que a
mesma não pode ser discutida sem considerar os
impactos da reforma da Educação Universitária.
De acordo com o Censo do Ensino Superior
2010, o número de matrículas de 2001 a 2010
aumentou em 110,1 %, perfazendo um total
de 6.379.299 matriculados em cursos de
graduação mais que o dobro do número de
matriculados em 2001. Entende-se que esse
aumento se deu por vários motivos, entre eles
a busca por trabalho especializado decorrente
do crescimento econômico no país e existência
de políticas públicas de incentivo ao acesso e
permanência no Ensino Superior.
A última década revelou aumento de 134
% no índice de matrículas no Ensino Superior,
motivadas pela participação das instituições
privadas que abrigaram por 70,8 % das matrí-
culas no ano de 2003. Mesmo com signi-
cativa expansão, o Ensino Superior continua
um desao, requerendo a ampliação do acesso
às instituições públicas de modo a incluir uma
população maior de jovens com idades entre 18 e
24 anos que se originam de camadas mais baixas
da população (Unesco, 2009).
Na trajetória percorrida pelo Ensino Superior
no Brasil são referidos três períodos distintos:
projeto de reforma universitária do governo
do presidente João Goulart (1961-1964)
*
; a
ditadura militar
**
, quando foi elaborado um novo
projeto de reforma universitária, que começou
a ser implantado a partir de 1968 e, em tempo
presente, o terceiro projeto de reforma universi-
tária do país (2003-2010) o Programa de Apoio
a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais - (Reuni).
No governo de Fernando Henrique Cardoso
***
,
o Ministério de Educação MEC, apresentou
às universidades concessão de maior autonomia
administrativa, com o intuito de compensar a
* Indica-se a leitura de Bandeira (1991).
** Leia-se de Fávero (2009).
*** Não é a nossa intenção aprofundar a discussão, para saber mais
consultar: Catani, A. M., Oliveira, J.F. (2000).
educ. humanismo, Vol. 19 - No. 32 - pp. 110-125 - Enero-Junio, 2017 - Universidad Simón Bolívar - Barranquilla, Colombia - ISSN: 0124-2121
http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/educacion/index
Yolanda Zancanella
113
escassez nanceira mediante exercício de uma
gestão menos burocrática, conferindo-lhes, por
isso, um caráter político de asxiamento.
Com essas medidas cou evidente o sucate-
amento das universidades públicas como
resultado de diferentes fatores interagentes:
cortes de verbas, cessação de concursos públicos
para professores e funcionários técnico-adminis-
trativos, expansão do Ensino Superior privado e
das matrículas dela decorrentes, destinação de
verba pública para as faculdades particulares,
aumento no número de fundações privadas nas
Instituições de Ensino Superior (IES) públicas,
e ausência de uma política efetiva de assistência
estudantil.
Foram ajustes e reformas impostos ao longo
do tempo por agentes nanceiros internacionais
com a nalidade de atender aos interesses econô-
micos; não foi mensurado, porém, o impacto
negativo e os efeitos sociais para grande parcela
da população que se viu excluída do acesso ao
Ensino Superior em meio a perdas signicativas
de benefícios sociais.
La línea más fructífera de investigación en
torno a los cambios en la universidad debería
ser el estudio de las consecuencias sociales
y simbólicas de la reorganización institu-
cional, así como de sus consecuencias en
la reinvención de los modos de existencia
de los docentes, protagonistas centrales del
devenir universitario. Si el docente es el
agente clave en el desarrollo cotidiano de la
vida de la universidad, este debería ser uno de
los primeros convocados para realizar dicha
transformación, toda vez que es uno de los
principales afectados. (Ibarra, 2002; López &
Restrepo, 2011 citados en Romero & Laborín,
2016, p.209)
Entretanto, os professores não foram consul-
tados em nenhum momento, sobre os ajustes
e reformas no interior da universidade, elas se
deram por meio de ações de governo, seguindo
muitas das recomendações do Banco Mundial.
A implementação desses ajustes e reformas
foi realizada pelo Ministro da Educação Paulo
Renato de Souza (2002), em anúncio sobre a
reforma universitária e indicando que os pilares
de sua política foram baseados nas recomen-
dações do Banco Mundial: Avaliação Institu-
cional e Exame Nacional de Cursos (Provão);
Autonomia Universitária; e Melhoria do Ensino,
através do Programa de Graticação e estímulo
à Docência/GED. O teor desses pilares, na
verdade, propõe consolidar o projeto neoliberal
cujas propostas buscam a autonomia univer-
sitária, ou seja, a privatização da universidade
pública brasileira, retirando do Estado a respon-
sabilidade de seu nanciamento.
Essa reforma universitária, contudo, não
foi implementada no Governo de Fernando
Henrique Cardoso em todo o seu conteúdo,
porque os movimentos sociais organizados de
estudantes, professores e técnicos promoveram
ações contrárias a esse objetivo.
educ. humanismo, Vol. 19 - No. 32 - pp. 110-125 - Enero-Junio, 2017 - Universidad Simón Bolívar - Barranquilla, Colombia - ISSN: 0124-2121
http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/educacion/index
Formação superior dos jovens oriundos do campo: uma trajetória em construção
114
Com o Governo seguinte, de Luís Inácio Lula
da Silva (2003-2010), ao Ensino Superior foi
sugerido um processo de expansão justicado
em razão da democratização do acesso e perma-
nência. A metodologia de expansão contou, para
o ano de 2006, com ações de diferentes nortes,
desenhadas em novas estruturas e expansão de
instituições federais para o ensino técnico médio
e superior tecnológico, o aumento no número
de vagas nas universidades, o fornecimento de
bolsas de estudo, parciais ou integrais em insti-
tuições de ensino superior particulares, a criação
de política de cotas, dentre outras ações voltadas
ao ensino superior.
Segundo Cunha
Para que tal política seja exitosa, é funda-
mental reconhecer as diferenças de expec-
tativas e de formação escolar dos aspirantes
ao ensino superior, uma vez que a extensão
da escolaridade superior não pode continuar
a ser tratada como se fosse uniforme e
monocórdica. Assim, o projeto de reforma
do ensino superior brasileiro tem-se pautado
pela inclusão de grupos sociais e étnico-raciais
sub-representações na Educação Superior,
redimensionando os espaços tradicionalmente
e historicamente associados a um tipo de
produção de saber cientico. (Cunha, 2011,
p.406)
Com o lançamento do Plano de Aceleração
do Crescimento (PAC) o governo de Luís Inácio
Lula da Silva teve como intenção o aumento do
investimento público e privado em infraestrutura
no país, ao mesmo tempo em que promoveu
redução de barreiras ao crescimento nacional.
No âmbito das políticas públicas educacionais, o
Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE)
congura-se como uma novidade relevante do
Estado para a educação e a formação.
As ações constantes nos objetivos do PDE,
com vinculação especíca ao Ensino Superior
podem ser destacadas entre a Universidade
Aberta do Brasil (UAB), o Fundo de Financia-
mento ao Estudante de Ensino Superior (FIES),
o Programa Nacional de Pós-doutorado (PNPD),
o Programa de Acessibilidade na Educação
Superior, o apoio nanceiro à produção de
conteúdos educacionais digitais multimídia, o
Programa de Extensão Universitária (Proext),
a Nova Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES), o Programa
de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão
das Universidades Federais (REUNI) o Banco de
Professor-equivalente, este, regulamentado pelo
Decreto nº 7.485 de 18 de maio de 2011 (Brasil,
2007; Ministério da Edu
ção, 2011).
O Programa de Apoio a Planos de Reestru-
turação e Expansão das Universidades Federais
(REUNI) consistiu em uma das estratégias
nais de governo, no ano de 2007, para imple-
mentar a reforma na universidade, previamente à
aprovação pelo Congresso Nacional de projetos
de lei que o regulamentassem.
Na discussão de Cunha (2011) o REUNI,
concebe um plano de alargamento da base social
educ. humanismo, Vol. 19 - No. 32 - pp. 110-125 - Enero-Junio, 2017 - Universidad Simón Bolívar - Barranquilla, Colombia - ISSN: 0124-2121
http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/educacion/index
Yolanda Zancanella
115
de recrutamento de estudantes para o Ensino
Superior, que antes dessa política estavam a
margem do processo de acesso e permanência na
universidade. Ainda segundo Cunha,
A Universidade não deve ser percebida não
apenas como espaço de reprodução, mas
de mobilidade social, deve-se analisar se a
expansão do acesso está sendo acompanhada
de uma política que cuide da permanência
desses jovens na Universidade. No entanto,
deve-se ressalvar que o impacto de uma
política como essa dicilmente consegue
modicar a procura e a escolha pelas carreiras
mais valorizadas, uma vez que essas ainda
são ocupadas pelo perl típico dos alunos das
universidades públicas: pais escolarizados,
brancos, oriundos das regiões metropolitanas
etc. ...(Cunha, 2011, p.444)
Com a proposta de expansão das Instituições
Federais de Ensino Superior (IFES), o governo
teve como objetivo o disposto no Decreto nº 6.096
de 24 de abril de 2007, Art. 1º: “criar condições
para a ampliação do acesso e permanência na
educação superior, no nível de graduação, pelo
melhor aproveitamento da estrutura física e de
recursos humanos existentes nas universidades
federais” (Brasil, 2007).
Este Programa foi instituído pelo Decreto
6.096/2007 como uma das ações que integram o
Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).
O Reuni é assim denominado pelo governo Lula,
cujo objetivo principal é a ampliação do acesso
e permanência na educação superior (Ministério
da Edu
ção, 2009).
Com base no Reuni, uma série de medidas
para a retomada do crescimento no ensino
superior público foram adotadas com criação de
condições para a expansão física, acadêmica e
pedagógica das universidades federais (MEC,
2009).
O Reuni, portanto, vem se constituindo em
trunfo do Estado para o Ensino Superior, porque
está inserido em programa amplo, acadêmico,
político e estratégico. Dele são esperadas reações
por parte das universidades em sua dinâmica de
atuação, losoa de trabalho, bem como nas
diretrizes curriculares e estrutura de organização.
A intenção do Reuni é comportar nas univer-
sidades federais um contingente de acadêmicos
signicativo, em especial com horários noturnos
de atendimento, fato que presumiu a abertura de
novos campi em localidades variadas no interior
do país.
Na discussão de Cunha, embora mais hetero-
gêneo e democratizado,
“...o ensino superior evidencia a persistência
de desigualdades de acesso e de sucesso,
visíveis no contraste entre os cursos mais
disputados e as carreiras mais privilegiadas,
ocupados predominantemente por alunos de
origem social mais favorecida e os cursos
e áreas menos prestigiadas e com menores
promessas de rendimento no futuro, menos
educ. humanismo, Vol. 19 - No. 32 - pp. 110-125 - Enero-Junio, 2017 - Universidad Simón Bolívar - Barranquilla, Colombia - ISSN: 0124-2121
http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/educacion/index
Formação superior dos jovens oriundos do campo: uma trajetória em construção
116
seletivos nos requisitos escolares exigidos e
onde se encontram os estudantes com menores
recursos (Cunha, 2011, p.268).
Quanto a esta implementação opiniões
favoráveis e contrárias são percebidas em
diferentes instâncias da área educacional. Para
uns, ao Reuni
*
caberia popularizar o acesso ao
ensino superior por parte de classes populares,
mediante medidas que compreende o Prouni
**
,
o sistema de reserva de vagas para estudantes
negros, indígenas entre outros; os alunos que
vêm da rede pública de ensino básico.
Nas análises de Orso (2007), na proposta
do Reuni o discurso é sobre a necessidade de
democratizar o acesso e ampliar o número de
vagas na universidade pública, com melhoria da
qualidade de ensino. Analisando esta questão em
uma perspectiva mais ampla “[...] veremos que a
razão maior da reforma se encontra na crise pela
qual o capital está sendo submetido e no endivi-
damento externo” (p.6).
* A expansão da Rede Federal de Educação Superior teve início
em 2003 com a interiorização dos campi das universidades fe-
derais. Com isso, o número de municípios atendidos pelas uni-
versidades passou de 114 em 2003 para 237 até o nal de 2011.
Desde o início da expansão foram criadas 14 novas universida-
des e mais de 100 novos campi que possibilitaram a ampliação
de vagas e a criação de novos cursos de graduação. A terceira
etapa da expansão da educação superior compreende a criação
de quatro universidades federais que serão instaladas no Pará,
no Ceará e na Bahia e a abertura de 47 campus universitários.
Desses campus, 20 serão instalados até 2012 e os outros 27,
até 2014. a expansão da Rede Federal de Educação Pro-
ssional, Cientíca e Tecnológica terá 208 novas unidades,
distribuídas em municípios dos 26 estados e no Distrito Fede-
ral. Ministério da Educação – MEC – 2010 – Brasil.
** É o programa do Ministério da Educação que concede bolsas
de estudo integrais e parciais de 50 % em instituições privadas
de educação superior, em cursos de graduação e sequenciais de
formação especíca, a estudantes brasileiros sem diploma de
nível superior.
Fica aquém das propostas sociais do Estado,
quando vericamos o documento do Minis-
tério da Fazenda, de 13 de novembro de 2003,
denominado de Gasto Social do Governo Central:
2001 e 2002, que indica um roteiro para ampla
reforma do gasto social no Brasil, esclarecendo
que o modelo de nanciamento das instituições
públicas de ensino superior foi considerado um
obstáculo às metas sociais do governo. Em seu
teor mais importante, o documento expressa que:
A composição salarial dos estudantes brasi-
leiros é um bom exemplo do que no país
‘os mais ricos’ se apropriam de uma grande
fatia dos gastos públicos na área social. No
nível do terceiro grau, o governo estaria
destinando aproximadamente 46% de seus
recursos, beneciando ‘apenas indivíduos
que se encontram entre os 10% mais ricos da
população’ (Silva, 2007, p.110).
Com percepção similar se manifestaram
Cêa e Reis (2007) a respeito do conteúdo do
documento Reforma da Educação Superior
rearmando princípios e consolidando diretrizes,
com divulgação em agosto de 2004.
Cêa e Reis (2006) entenderam que:
A ideia de que as propostas do Governo Federal
para o ensino superior objetivam a realização
de uma ‘reforma’ aqui é rechaçada. O termo
reforma é associado à ideia de consertar,
restaurar, melhorar, ampliar direitos. Susten-
tamos que o que se opera, de fato, é uma
educ. humanismo, Vol. 19 - No. 32 - pp. 110-125 - Enero-Junio, 2017 - Universidad Simón Bolívar - Barranquilla, Colombia - ISSN: 0124-2121
http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/educacion/index
Yolanda Zancanella
117
contra-reforma, uma vez que as propostas
apresentadas pelo governo Lula resultarão na
deterioração do ensino público, na restrição de
direitos. (p.307)
Neste caso, a justiça social assume critérios de
iguais oportunidades, cabendo a cada indivíduo,
partindo de suas competências e habilidades,
conquistar uma vaga nos cursos pós - médio ou
nas universidades (Reis, 2007).
Entretanto, são visíveis os efeitos da iniciativa
do Reuni, com a expansão dos números de vagas
em cursos de graduação, ampliação da oferta de
cursos noturnos, implantação de novas práticas
pedagógicas e no combate à evasão, metas que
objetivam redução de desigualdades sociais no
país.
Essa redução de desigualdade que norteia as
intenções do governo federal com o Reuni se
coaduna com a abertura de campus em cidades
distantes dos principais centros de negócios do
país, com pretensão de conceder o dobro das
vagas existentes para o acesso ao ensino superior.
Martins (2009) salienta que em 2003 deu-se
a reorientação da política educacional, com o
fortalecimento do ensino público em especial
nas universidades federais. Em 2004, foram
colocadas em prática ações para reverter a
situação adversa das instituições federais com
recuperação do orçamento, implantação de
novas unidades, contratação de novos docentes e
funcionários mediante concurso público e atuali-
zação salarial.
Entendemos que ao disponibilizar o ensino a
distância, o Reuni reduz a qualidade do ensino
universitário, bem como favorece o acesso de
alunos às instituições de ensino superior parti-
culares/privadas, com desvio de investimentos
do Prouni na melhoria e construção de mais
universidades no Brasil (Zancanella, 2011).
Na Cartilha da Frente de Luta contra a
Reforma Universitária (2011), a Reforma em si
é denida como “[...] um complicado processo,
envolvendo Medidas Provisórias, Decretos, etc.,
que já estão sendo implementados desde o início
do governo Lula” (p.5).
É citado como bem antigo, no entanto, o
processo de desmonte do Ensino Superior
Público. O modo como desvirtuou bandeiras
históricas do movimento de educação, é novo,
considerando que Lula utilizou-se de um
discurso que envolve o conjunto da sociedade
na construção dessa Reforma e com base em
reivindicações do passado, “Converteu seu
sentido para os interesses abusivos do capital
nanceiro”, desencadeando desorganização dos
movimentos à adesão ao atual sistema que atua
na lógica da exceção e da exclusão (Cartilha da
Frente de Luta contra a Reforma Universitária,
2011).
Ou seja: não mudanças signicativas no
cenário do ensino superior brasileira, manten-
do-se em evidência exatamente os critérios que
buscam atender as necessidades do mercado
e a prevalência dos valores econômicos. O
ensino superior, com isso, tem se constituído
educ. humanismo, Vol. 19 - No. 32 - pp. 110-125 - Enero-Junio, 2017 - Universidad Simón Bolívar - Barranquilla, Colombia - ISSN: 0124-2121
http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/educacion/index
Formação superior dos jovens oriundos do campo: uma trajetória em construção
118
em produto de comércio, enquanto as ações
para que possa cumprir com os direitos sociais
que são apregoados pela própria educação
cam restritos. (Zancanella, 2011, p.141).
Paralelamente não percebemos grandes
discussões sobre o ensino superior e o seu
alcance, senão quando focaliza o indivíduo
que teve acesso em seu status educacional. São
esquecidas, nessa discussão, a institucionalidade
social que deve caracterizar a universidade e
seu papel formador de uma elite intelectual e
cientíca voltada aos objetivos da sociedade.
O Reuni é uma temática ainda em destaque
nas discussões sobre o acesso ao ensino superior,
porque está sendo construído e não permite
conclusões acerca dos impactos que a sua imple-
mentação promoveu. As alegações justicadas
para a expansão e reestruturação das universi-
dades incluem exatamente a dualidade referida
no parágrafo anterior: ao focar o futuro do tripé
ensino-pesquisa-extensão não se dissocia da
relação com o mercado de trabalho, que espera
das universidades o fornecimento de um contin-
gente de prossionais qualicados e especiali-
zados para o trabalho.
A face que o Reuni permite vislumbrar, por
enquanto, é que deu certo ou está dando certo
nas metas expansionistas da universidade e no
aumento do número de vagas para o acesso ao
Ensino Superior e as perspectivas de minimi-
zação das desigualdades pela distribuição dos
novos campis em novas cidades do país. A
confusão, entretanto, ainda permanece quando
não são vericadas inovações quanto ao ensino
em si, não novidades na reestruturação do
currículo acadêmico.
Jovem do campo: a busca por novas possi-
bilidades no ensino superior
A análise que aqui se insere se ancorou em
parte no material coletado na pesquisa de campo
com 13 acadêmicos do curso de Geograa -
licenciatura e 13 do curso de Pedagogia, empre-
gando a pesquisa qualitativa. As questões que
nortearam a discussão foram; como e por que
você se mobilizou para buscar a formação
universitária? O que o motivou? Como foi a
sua trajetória de formação até aqui? Que signi-
cado tem para você a formação superior? Com
essas apreensões pudemos relacionar os dados
obtidos nas entrevistas com outros estudos sobre
formação superior do jovem oriundo do campo.
Para a pesquisa desenvolvida no período de
2013 a 2014, entrevistamos 26 acadêmicos do
curso de Pedagogia e Geograa - licenciatura
da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
campus de Francisco Beltrão, que culminou nas
sistematizações que aqui se inserem.
Como instrumento de dados propôs-se
a pesquisa semi-estruturada que permite ao
pesquisador partir de certos questionamentos
básicos, apoiados em teorias e hipóteses de
interesse da pesquisa, no sentido de promover
amplo campo de interrogativas no desenrolar da
entrevista. Com isto foram buscadas respostas
educ. humanismo, Vol. 19 - No. 32 - pp. 110-125 - Enero-Junio, 2017 - Universidad Simón Bolívar - Barranquilla, Colombia - ISSN: 0124-2121
http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/educacion/index
Yolanda Zancanella
119
ao questionamento da pesquisa e o atendimento
aos objetivos propostos. Utilizou-se um roteiro
com perguntas atinentes ao tema proposto.
Foram realizadas entrevistas semi-estrutu-
radas com acadêmicos dos cursos de Pedagogia
e Geograa-licenciatura da Unioeste.
As entrevistas foram gravadas, com autori-
zação dos participantes, sendo o teor das mesmas
transcritas posteriormente na íntegra e buscando
respeitar as características e singularidades
dispostas por cada um dos entrevistados.
Trata-se esta pesquisa de um estudo de
caso que possibilita realizar um trabalho com
dois diferentes vértices: de um lado, favorecer
a unidade com relação ao objeto de investi-
gação; de outro lado, reforça a abrangência.
Ainda, permite que o pesquisador utilize
suportes teóricos como diretrizes orientadoras
da pesquisa, proporcionando maior facilidade na
realização da mesma, conforme se deniu para
este estudo (Triviños, 1987).
Deste modo, pretendeu-se partir do parti-
cular para chegar ao geral, ou seja, tomar como
Figura 1. Perl dos entrevistados
Fonte: Elaborado pelo autor
Figura 2. Perl dos entrevistados
Fonte: Elaborado pelo autor
educ. humanismo, Vol. 19 - No. 32 - pp. 110-125 - Enero-Junio, 2017 - Universidad Simón Bolívar - Barranquilla, Colombia - ISSN: 0124-2121
http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/educacion/index
Formação superior dos jovens oriundos do campo: uma trajetória em construção
120
ponto inicial as histórias individuais dos entre-
vistados, para traçar o perl desses acadêmicos,
e, compreender o signicado que esta formação
tem para eles e seus pais, suas organizações e
luta social, a m de buscar elementos que possi-
bilitem a compreensão de como estas experi-
ências são apresentadas no âmbito de sua vida
pessoal e quais são os resultados obtidos a partir
destas ações.
É interessante notar que as respostas se
constituem em dados signicativos de análises,
considerando que não aparece nenhum pai
analfabeto, bem como ressaltar a ampliação dos
anos de estudos dos seus lhos, considerando
que frequentam o Ensino Superior.
Todos os entrevistados salientaram as dicul-
dades encontradas para o ingresso no curso
superior, reforçando a importância das formas
diferenciadas de ingresso como fundamental
para tal, como discutimos acima, nas reformas
universitárias, ressaltam ainda “o esforço” dos
pais, para viabilizar o seu ingresso e perma-
nência, considerando que a maioria migra para
a cidade ,e os pais deixam de contar com o
seu trabalho na propriedade, que a maioria
trabalha na agricultura familiar.
Elegemos alguns destes depoimentos onde os
pais aparecem como fundamentais na motivação
e mobilização, para que seus lhos ingressassem
no curso superior, visto que tais depoimentos se
justicam por sintetizarem questões frequen-
temente citadas pelos entrevistados. Quando
perguntados Como e por que você se mobilizou
para buscar a formação universitária? Quem o
auxiliou? Quem o incentivou?
O fato de querer estudar mais e ter uma
formação prossional, meus pais me ajudaram
para eu poder parar de sofrer com serviços
pesados. (Acadêmica da Geograa)
O gosto pelo curso e por ter uma prossão e
meus pais não quererem que eu trabalhe mais
na roça. (Acadêmica da Geograa)
Partiu de mim mesma e de minha família.
(Acadêmica da Geograa)
Eu sempre tive como sonho estudar e me
formar em algo, a vontade de ser professora
também foi crescendo, e meus pais me
ajudaram muito para eu conseguir estar aqui.
(Acadêmica da Geograa)
Para o futuro, pois a agricultura como está
se mantêm os grandes proprietários e meu pai
não tem grande área para manter a família, por
isso, também que eles querem que eu estude.
(Acadêmica da Geograa)
Por minha irmã ter uma formação e por
incentivo muito grande por parte de minha
mãe. (Acadêmica da Pedagogia).
Vontade de adquirir conhecimento, crescer
cultural e nanceiramente. Motivação própria
e familiar. (Acadêmica da Pedagogia)
educ. humanismo, Vol. 19 - No. 32 - pp. 110-125 - Enero-Junio, 2017 - Universidad Simón Bolívar - Barranquilla, Colombia - ISSN: 0124-2121
http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/educacion/index
Yolanda Zancanella
121
Meus pais e depois eu quis ter a formação.
(Acadêmica da Pedagogia)
Porque desde criança eu gostava de brincar
de ser professora e quando terminei o ensino
médio eu tive a oportunidade de fazer o vesti-
bular e hoje eu estou fazendo o que mais
queria. O que motivou foram meus pais.
(Acadêmica da Pedagogia)
Os pais frisam nos seus relatos que não
querem para os lhos, o mesmo tipo de “trabalho
sofrido”, que tiveram para garantir a sua sobre-
vivência, almejam que o lho tem um trabalho
socialmente reconhecido, algo que segundo eles
não acontece na agricultura.
Ao serem questionados sobre o retorno do
lho para casa depois de terminado o curso,
respondem que gostariam desde que seja para ser
professor, na comunidade em que vivem consi-
derando que os acadêmicos entrevistados são
dos cursos de licenciatura, mas nenhum dos pais,
acha que depois de terminado um curso superior
o lho deve voltar para “tirar leite”. Ou seja, a
expectativa de conseguir um “bom trabalho” é
compartilhada por os todos acadêmicos entrevis-
tados, e também por seus pais os lhos “melho-
rarem de vida”.
Entretanto, é importante ressaltar que esses
elementos não são centrais na reconstrução de
um novo modo de vida no campo. É preciso
analisar a formação dos jovens oriundos campo
enquanto possibilidade de articular propostas
que suscitam o desenvolvimento de uma prática
coletiva, não se esquecendo, para tanto, a
inuência dos aspectos políticos econômicos,
culturais e sociais da sociedade.
Quando questionados sobre que signicado
tem a formação superior universitária os acadê-
micos responderam:
É uma continuidade dos meus estudos,
sendo essa formação vista como necessária
pois, atualmente é difícil conseguir um bom
emprego com o ensino superior, imagine sem
o mesmo. (Acadêmica de Geograa)
Ter um emprego garantido, gosto pelo curso e
por ter uma prossão e não trabalhar mais na
roça. (Acadêmica de Geograa)
Busca por melhores empregos. (Acadêmica de
Geograa)
Ter seu próprio salário, sua prossão, fazer o
que a gente gosta. (Acadêmica de Geograa)
O principal é o conhecimento que estou
absorvendo, e em segundo a oportunidade de
emprego quando me formar. (Acadêmica de
Geograa)
Realização do sonho, conhecimento, mais
chance de um bom emprego. (Acadêmica de
Geograa)
Além de preparar prossionalmente e inserção
educ. humanismo, Vol. 19 - No. 32 - pp. 110-125 - Enero-Junio, 2017 - Universidad Simón Bolívar - Barranquilla, Colombia - ISSN: 0124-2121
http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/educacion/index
Formação superior dos jovens oriundos do campo: uma trajetória em construção
122
no mercado de trabalho, possibilita um melhor
preparo para a vivência em comunidade.
(Acadêmica de Geograa)
Ser um homem um pouco mais critica e dar
um passo a mais na minha evolução pessoal e
prossional. (Acadêmico de Geograa)
Além de um aprendizado melhor, uma chance
de emprego. (Acadêmica de Pedagogia).
Em primeiro lugar um objetivo alcançado e
depois outras portas se abrindo. (Acadêmica
de Pedagogia).
O reconhecimento, pois sair do interior
e ingressar em uma faculdade estadual e
de grande importância. (Acadêmica de
Pedagogia).
Boa atuação no mercado de trabalho e
formação intelectual. (Acadêmica de
Pedagogia).
A análise das entrevistas permite apontar os
seguintes pontos, que são destacados e repetidos
nas falas dos acadêmicos independente do curso
de graduação frequentado Pedagogia ou Geogra-
a-licenciatura, a busca por uma formação
prossional como meio para obter colocação
no mercado de trabalho e, para não retornar ao
trabalho rural, na propriedade da família, busca
de conhecimento desejo de se tornar professor
entre outras.
Entende-se que esta perspectiva contribui
para descaracterizar a identidade dos jovens
do campo no sentido de se distanciarem do seu
universo cultural.
Ao ponderar sobre a participação dos pais dos
discentes no contexto investigado ca evidente
que, os pais ofereceram importantes estímulos e
oportunidade para o ingresso no ensino superior
desejam aos lhos uma vida mais digna, oportu-
nidades melhores do que as atividades no campo
poderiam oferecer. Alguns pais gostariam que os
lhos retornassem ao campo apenas no papel de
professor na comunidade em que vivem.
Considera-se fundamental que os jovens do
campo e seus pais entendam o espaço rural,
como um modo de vida social contribui para
auto-armar a sua identidade, valorizando o seu
trabalho, a sua história, o seu jeito de ser, os seus
conhecimentos, a sua relação com a natureza
numa atitude de recriação da sua história ou
seja; uma inversão do olhar característico sobre
a cidade como lugar ideal para se viver.
Considerações Finais
A pesquisa teve como objetivo, avaliar a
percepção dos acadêmicos oriundos do campo
sobre a oportunidade de ingressar em uma
universidade pública, a partir dessas questões
iniciais é que se deniram os objetivos desta
investigação: discutir e analisar que signicado
tem para os pais e jovens oriundos do campo a
formação universitária buscando a compreensão
sobre os signicados que essa formação tem
para esses sujeitos, a partir das características
atribuídas, por eles, a ela.
educ. humanismo, Vol. 19 - No. 32 - pp. 110-125 - Enero-Junio, 2017 - Universidad Simón Bolívar - Barranquilla, Colombia - ISSN: 0124-2121
http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/educacion/index
Yolanda Zancanella
123
Considerando as diculdades que os jovens
oriundos do campo encontram para ingressar na
universidade pública, vericam-se resultados
signicativos, mesmo que as políticas elitizantes
continuem a ser implementadas na universidade,
algumas ações repercutem em experiências
novas no espaço social da universidade.
As razões acima expostas nos zeram assumir
como nalidade investigar a formação superior
dos jovens oriundos do campo, por meio do
reconhecimento da relação totalidade e particu-
laridade, analisando essa relação como motora
da experiência autêntica da educação e como
instituidora do complexo em que ela se encontra.
Para tanto, foi necessário esforço de apreender
as categorias sociais, nas respostas a entrevista
para a ordenação das categorias analíticas, como
a luta pelo direito a educação, políticas públicas,
políticas sociais, e a identidade dos jovens
oriundos do campo.
Esse movimento colaborou para entender que
algumas das nossas suposições iniciais encontra-
vam-se parcialmente corrobadas; primeiramente
é que o desejo dos pais e dos jovens buscar a
formação superior universitária para sair do
campo, e, não permanecer nesse espaço. O
jovem não busca a sua formação pensando na
melhoria da sua vida no campo e sim de viver
na cidade e também como forma de qualicação
para a entrada no mercado de trabalho.
A busca da realização do sonho de uma vida
melhor na cidade poderá originar um signi-
cativo abandono das propriedades rurais pelos
trabalhadores desencadeando graves problemas
sociais urbanos como já vistos no passado
com o processo de industrialização do país.
As migrações dos trabalhadores rurais para as
atividades industriais se depararam com a falta
de qualicação e especialização da população
urbana, privilegiadas pelas políticas públicas
educacionais. Os resultados indicaram traba-
lhadores rurais marginalizados pela ausência de
formação e de escolarização
Avaliamos as ações dos pais de estímulos e
oportunidades na conquista da formação superior
universitária de seus lhos são fundamentais
embora esses pais não tenham sequer concluído
a sua escolarização nas séries iniciais do ensino
fundamental.
Por m, compreendemos em nosso estudo
que as necessidades e os interesses da população
do campo exigem debruçar-se sobre uma estra-
tégia política diferenciada, com um olhar voltado
a um modelo de desenvolvimento que agregue
sustentabilidade e qualidade, considerando
imprescindível que às famílias que continuem
suas atividades nas áreas rurais e sejam oportu-
nizadas novas formas de produção e de sobre-
vivência. A educação, contudo, é diferenciada e
exige um projeto voltado para os trabalhadores
do campo, respeitando o tempo e a cultura local.
Nessa perspectiva a universidade não é
apenas um local de transmissão de conheci-
mentos, mas de produção e sistematização. A
educ. humanismo, Vol. 19 - No. 32 - pp. 110-125 - Enero-Junio, 2017 - Universidad Simón Bolívar - Barranquilla, Colombia - ISSN: 0124-2121
http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/educacion/index
Formação superior dos jovens oriundos do campo: uma trajetória em construção
124
perspectiva teórica da universidade e educação
relaciona-se com a ideia de democratização das
práticas sociais e nelas as práticas educativas.
Referências
Arroyo, M. G, Caldart, R.S, M.M. Castagna.
(2004) Por uma educação do campo, pp.
7-18.
Arroyo, M. G. Pedagogias em movimento o
que temos a aprender dos Movimentos
Sociais? (2003) Currículo sem Fronteiras.
Bandeira L. A. M. (1991). O Governo João Gou-
lart: as lutas sociais no Brasil 1961-1964.
Brasília: Renavan.
Bogdan, R., Biklen, S. (1994). Investigação
qualitativa em educação: uma introdução
a teoria e aos métodos. Porto, Portugal.
Brasil, (2010) Censo da Educação Superior,
INEP/MEC.
Brasil, (2009). Aprimoramento da sistemática de
gestão do Ministério da Educação – MEC
em seus processos de formulação, implan-
tação e avaliação do Plano de Desenvolvi-
mento da Educação PDE. Brasília, DF:
Ministério da Educação.
Brasil, (2007). Decreto 6.096 de 24 de abril
de 2007. Brasília, DF: Presidência da
República. Institui o Programa de Apoio a
Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais - REUNI.
Brasil, (2010). Censo da educação superior
2010: divulgação dos principais resul-
tados do Censo da Educação Superior.
Brasília, Ministério da Educação – Inep.
Caldart, R. S.(2002) Por Uma Educação do
Campo: traços de uma identidade em
construção. Brasília.
Caldart, R. S. (2003) Movimento Sem Terra:
Lições de Pedagogia. Currículo sem
Fronteiras.
Caldart, R. S. (2004) Pedagogia do movimento
sem terra. São Paulo, Expressão Popular.
Cartilha da frente de luta contra a reforma
universitária. Reforma Universitária: o
desmonte da educação pública. Disponível
em: <http://www.adufpa.org.br/arquivos/
File/cartilhas/Cartilha_Reforma_Univer-
sitaria.pdf>, 13 jul. 2011. Acesso em: 03
maio. 2015.
Castagna, M.M. (2007) Políticas de formação
de educadores (as) do campo. Caderno
Cedes.
Catani, A. M.(2000), Oliveira J.F. A Reforma da
educação superior no Brasil nos anos 90:
diretrizes, bases e ações. Belo Horizonte,
Autêntica.
Fávero, L. A. (2009). Universidade no Brasil:
das origens à Reforma Universitária de
1968. Curitiba, UFPR.
Fernandes, B. M. Cerioli, Paulo R. Caldart, R. S.
Salete. (2004) Petrópolis, Vozes.
Frigotto, Gaudêncio. (2010) Exclusão e/ou
Desigualdade Social? Questões teóricas
e político-práticas. Pelotas, FaE/PPGE/
UFPeL.
Jesus, S. M. Z. (2004). Questões Paradigmáticas
da Construção de um Projeto Político de
Educação do Campo.(Coleção Por uma
Educação do Campo, Caderno n. 5).
Kolling, E. J. (1999). Por uma educação básica
educ. humanismo, Vol. 19 - No. 32 - pp. 110-125 - Enero-Junio, 2017 - Universidad Simón Bolívar - Barranquilla, Colombia - ISSN: 0124-2121
http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/educacion/index
Yolanda Zancanella
125
no campo. Universidade de Brasília.
Orso, P. (2007). Educação, sociedade de classes
e reformas universitárias. Campinas, SP,
Autores Associados.
Romero, M. & Laborín, J. (2016). Calidad
de vida en docentes de educación
pública superior. Revista Educación y
Humanismo, 18(31), 205-224.
Souza, M. A. (2006). Educação do campo:
propostas e práticas pedagógicas do MST.
Petrópolis, RJ, Vozes.
Souza, M. A. (2010). Educação e movimentos
sociais do campo: a produção do conhe-
cimento no período de 1987 a 2007.
Curitiba, UFPR.
Triviños, A.N.S.(1987). Introdução à pesquisa
em ciências sociais: a pesquisa qualitativa
em educação. São Paulo, Atlas.
Zancanella, Y. (2011).Cursos Superiores Univer-
sitários: Formação dos educadores do
campo. Campinas, Unicamp.
educ. humanismo, Vol. 19 - No. 32 - pp. 110-125 - Enero-Junio, 2017 - Universidad Simón Bolívar - Barranquilla, Colombia - ISSN: 0124-2121
http://revistas.unisimon.edu.co/index.php/educacion/index
Formação superior dos jovens oriundos do campo: uma trajetória em construção