ISSN: 2344-8636
2 (1): 18 26
Enero - Junio 2014
Risco Cardiovascular em Usuários de Programa de Atenção a Hipertensos e
Diabéticos em um Município do Paraná-Brasil
Riesgo Cardiovascular en Usuarios del Programa de Atención de Hipertensos
y Diabéticos en una Ciudad de la Provincia del Paraná-Brasil
Cardiovascular Risk in Users of Hypertensive and Diabetic Attention Program
in a City of Paraná-Brazil
Recibido: 17 de Nov. 2013/Enviado para modificación: 16 de Ene. 2013/Aceptado: 27 de Feb. 2014
Tatiane Baratieri
1
Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro
Jéssica Dal Santo Ottoni
2
Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro
Maria Luciana Botti
3
Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro
Rita de Cássia Serpa Maicel
4
Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro
Letícia Gramazio Soares
5
Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro
RESUMEN
Introdução: As Doenças Crônicas Não Transmissíveis constituem-se em um dos principais problemas de saúde pública no mundo, quando associadas a fatores
de risco aumentam as chances de ocorrência de um evento cardiovascular. Objetivo: Caracterizar o perfil sociodemográfico, os fatores de risco cardiovascular
associados e a estratificação de risco a partir da análise das fichas cadastrais de usuários adultos do Programa Hiperdia. Materiais e métodos: Trata-se de estudo
descritivo-exploratório, documental e quantitativo, em município de pequeno porte na região centro-sul do Estado do Paraná. Os dados foram coletados a partir
de 62 fichas de usuários com até 60 anos cadastrados no Programa Hiperdia. Resultados: Quanto à caracterização dos participantes do estudo, o 84% é do sexo
feminino, 52% casados; 85% estão na faixa etária de 40 a 59 anos; 66% considera pertence a raça brancos e 68% cursou ensino fundamental. Sobre a
estratificação de risco verificou-se que 51% apresenta risco alto ou muito alto para evento cardiovascular. Sobre fatores de risco cardiovascular 39% tem
antecedentes familiares (cardiovascular), 27% é diabético, 29% tabagista, 47% é sedentário, 66% está com sobrepeso/obesidade e 100% é hipertenso.
Conclusão: O grau de risco aumenta conforme aumenta a idade, sendo que sobrepeso/obesidade, diabetes mellitus e sedentarismo são os principais fatores de
risco determinantes do grau de risco. É importante a identificação dos fatores de risco presentes nas pessoas com hipertensão e diabetes de forma a direcionar o
cuidado, bem como, a partir desses, realizar a estratificação de risco dos usuários, a fim de atender cada pessoa conforme suas necessidades de saúde,
viabilizando a prevenção de agravos.
Palavras Chave: Hipertensão, Diabetes Mellitus, fatores de risco, doença crônica (Fuente: DeCS).
ABSTRACT
Introduction: Diseases chronic not communicable constitute one of the major public health problems in the world when the associated risk factors increase the
chances of occurrence of a cardiovascular event. Objective: To characterize the cardiovascular risk factors and risk stratification by analyzing registration forms
of adult users Hiperdia Program. Materials and methods: This is a descriptive exploratory study, document and quantitative, in a small city in the south-central
region of the state of Paraná. Data were collected from 62 users chips with up to 60 years enrolled in the program Hiperdia. Results: The study population was
characterized by 84% female, 52% married, 85% aged 40-59 years, 66% white and 65% with elementary education. About risk stratification was found 51%
have high or very high risk for cardiovascular events. About risk factors of cardiovascular 39 % have a family history (cardiovascular), 27% are diabetic, 29%
smokers, 47% are sedentary, 66% are overweight/obesity and 100 % is hypertensive. Conclusion: The degree of risk increases with increasing age, and
overweight/obesity, diabetes and physical inactivity are the main risk factors that determine the degree of risk. It is important to identify the risk factors that
people with hypertension and diabetes are exposed to direct care, as well as from those factors, perform risk stratification of users in order to meet each person
according to their health needs, enabling the prevention of injuries.
Keywords: Hypertension, Diabetes Mellitus, risk factors, chronic disease (Source: MeSH, NLM).
Para citar este artículo: Baratieri T, Ottoni J, Botti ML, Serpa MR, Gramazio SL. Risco cardiovascular em usuários de programa de atencao a
hipertensos e diabéticos em um município do Paraná-Brasil. Cienc. innov. salud. 2014; 2 (1): 18-26.
1
Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Docente Assistente A do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro.
Paraná, Brasil. Email: baratieri.tatiane@gmail.com)
2
Enfermeira. Pós-graduanda da especialização em Gestão dos Serviços de Saúde pela Universidade Aberta do Brasil, ofertada pela Unicentro.
3
Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Docente Assistente A do Departamento de Enfermagem da Unicentro.
4
Enfermeira. Professor Auxiliar da Unicentro e Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde de Guarapuava/PR.
5
Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem da Unicentro.
19 Tatiane Baratieri, Jéssica Dal Santo Ottoni, Maria Luciana Botti, Rita de Cássia Serpa Maicel & Letícia Gramazio Soares
Cienc. innov. salud. Junio 2014; 2 (1):18 26. Universidad Simón Bolívar (Col). ISSN: 2344-8636
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Introdução
Até a metade do século XX, as doenças que
causavam a morte dos indivíduos e mobilizava os
profissionais de saúde eram as infectocontagiosas. As
transformações decorrentes da transição demográfica,
epidemiológica, nutricional e ocupacional geraram
alterações importantes no que diz respeito ao processo
saúde-doença, pois provocaram mudanças nos hábitos
de vida das pessoas, tornado-as menos saudáveis (1,2).
Atualmente, as Doenças Crônicas Não-
Transmissíveis (DCNT) constituem em um fenômeno
global, de modo que a magnitude desse aumento em
incidência e prevalência aponta que as maiores
proporções mundiais de óbitos por esses agravos
ocorrem em países em desenvolvimento (3).
No Brasil, a principal causa de morbidade, bem
como, de mortalidade são as DCNT. Em 2007, foram
responsáveis por 72% das mortes no país, destacando-
se a hipertensão arterial sistêmica (HAS) e diabetes
mellitus (DM), e a relação dessas com os índices de
mortalidade por doenças cardiovasculares como
infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral,
insuficiência cardíaca e coronariana, insuficiência
renal crônica entre outras (3), impactando
negativamente na vida das pessoas.
O presente estudo aborda os fatores de risco
cardiovascular em pessoas com hipertensão e/ou
diabetes, no contexto de um programa de atenção à
saúde do Brasil. Assim, dentre os fatores de risco
cardiovascular pode-se citar o tabaco, a obesidade, o
sedentarismo, o baixo consumo de frutas, verduras e
legumes, o alcoolismo, que quando associados à
hipertensão arterial e diabetes potencializam a
ocorrência de um evento cardiovascular (1,2).
Estudos revelam que a hipertensão arterial quando
acompanhada de fatores de risco está relacionada à
maior incidência de outras doenças como,
aterosclerose, cardiopatia isquêmica, acidente
cerebrovascular e doenças vasculares, tanto renais
quanto periférica (4).
A concepção de que os fatores de risco para doenças
crônicas afetam somente indivíduos em idade
avançada, ainda está muito presente entre as pessoas, o
que contribui para a existência de fatores entre adultos
jovens em idade laboral. A literatura aponta 65% dos
óbitos por doenças crônicas nesta população, ainda
aponta que são responsáveis por 40% das
aposentadorias precoces (5).
Existem evidências científicas de que atuar sobre os
fatores de risco pode eliminar pelo menos 80% das
doenças cardiovasculares e diabete tipo 2. Um
conjunto pequeno de fatores de risco é responsável
pela maioria das mortes por doenças crônicas e por
fração substancial da carga de doenças devido a essas
enfermidades (6).
Tendo em vista então as mudanças no processo de
adoecimento da população, no século XX foi
implementado no Brasil por meio da Portaria
371/GM (7), em 4 de março de 2002, o Programa
HiperDia, que se configura em um Plano de
Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e
Diabetes Mellitus, que estabelece metas e diretrizes
para ampliar ações de prevenção, diagnóstico,
tratamento e controle dessas doenças, mediante a
reorganização do trabalho de atenção à saúde.
Portanto, o Hiperdia surgiu como uma reorganização
da atenção a estas doenças, uma maneira de
acompanhar as transformações ocorridas nesta
população, além de descrever suas características (8).
Este Programa prevê um Sistema de Cadastramento
e Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos, o
SisHiperdia, que é um instrumento que serve para
nortear as investigações das DCNT e disponibilizar
informações relacionadas ao impacto epidemiológico
no contexto brasileiro (9).
Tendo em vista a incidência de DCNT entre adultos
jovens, a existência de fatores de risco preveníveis
nesta população, bem como os desdobramentos destas
doenças para a sociedade e serviços de saúde, optou-se
por realizar esta pesquisa. O estudo teve como objetivo
geral analisar as fichas cadastrais de usuários adultos
do Programa Hiperdia e como objetivos específicos:
(i) levantar o perfil sociodemográfico destes usuários;
(ii) caracterizar os fatores de risco para eventos
cardiovasculares e (iii) realizar a estratificação de risco
cardiovascular dos usuários.
Materiais e Métodos
Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo-
exploratória, documental de abordagem quantitativa. A
pesquisa foi realizada no Brasil, no município de
Pitanga, localizado no centro-sul do Estado do Paraná.
Risco Cardiovascular em Usuários de Programa de Atenção a Hipertensos e Diabéticos em um Município do Paraná-Brasil 20
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O município possui oito equipes de Estratégia Saúde
da Família (ESF), com 100% de cobertura, sendo que
dessas, apenas duas unidades fizeram parte do presente
estudo, tendo em vista que eram as equipes de saúde
que estavam com os cadastros dos usuários no
Hiperdia atualizados.
A seleção da amostra que compôs o estudo seguiu os
critérios de inclusão: fichas de usuários cadastrados no
Hiperdia nas equipes de saúde selecionadas; usuários
adultos, com menos de 60 anos, cadastrados no
Hiperdia das equipes de saúde selecionadas, e
excluídas as fichas de cadastro com informações sem
preenchimento. Assim, nas equipes de saúde
pesquisadas havia 206 usuários cadastrados no
Hiperdia, porém, desses, apenas 62 cadastros
atenderam aos critérios de inclusão.
A coleta de dados se deu em abril de 2012. Os dados
para caracterizão sociodemográfica e de saúde
foram: sexo; estado civil; faixa etária (classificada
conforme a ficha de cadastro no hiperdia); raça/cor;
escolaridadade; valor da pressão arterial no momento
do cadastro do usuário. Além disso, a partir da ficha
cadastral foram identificados os fatores de risco
cardiovascular e doenças associadas: antecedentes
familiares de evento cardiovascular, hipertensão
arterial, diabetes mellitus tipo I e II, tabagismo,
sedentarismo, sobrepeso/obesidade (ou seja, Índice de
Massa Corporal igual ou maior de 25Kg/m²) (10),
outras complicações (infarto agudo no miocárdio,
outras coronariopatias, acidente vascular encefálico, pé
diabético, amputação por diabetes, doença renal).
Com base nos valores pressóricos, fatores de risco
cardiovascular e outras complicações identificadas, a
população em estudo foi classificada, pelos
pesquisadores, conforme o grau de risco seguindo a
tabela de Risco Estratificado e Quantificação de
Prognóstico Pressão Arterial (mmHg) (11), que
consta na ficha de cadastro do Hiperdia, apresentada a
seguir em forma de quadro em quadro 1:
Quadro 1. Classificação de risco estratificado e
quantificação de prognóstico (11).
Outros fatores
de risco ou
doença
Grau 1
Hipertensão
leve PAS 140-
159 ou PAD
90-99
Grau 2
Hipertensão
moderada
PAS 160-179
ou PAD 100-
109
Grau 3
Hipertensão
grave
PAS>/=180 ou
PAD>/=110
I-Sem outros
fatores de risco
Risco baixo
Risco médio
Risco alto
Outros fatores
de risco ou
doença
Grau 1
Hipertensão
leve PAS 140-
159 ou PAD
90-99
Grau 2
Hipertensão
moderada
PAS 160-179
ou PAD 100-
109
Grau 3
Hipertensão
grave
PAS>/=180 ou
PAD>/=110
II- 1-2 Fatores
de risco
Risco médio
Risco médio
Risco muito
alto
III- 3 ou mais
fatores de risco
ou lesões nos
órgãos-alvo ou
diabetes.
Risco alto
Risco alto
Risco muito
alto
IV- Condições
clínicas
associadas,
incluindo doença
cardiovascular
ou renal.
Risco muito
alto
Risco muito
alto
Risco muito
alto
PAS: Pressão Arterial Sistólica
PAD: Pressão Arterial Diastólica
Para realizar a estratificação de risco, cada caso é
analisado isoladamente, no qual se analisa os fatores
de risco e critérios que o usuário apresenta, com o
objetivo de classificá-lo em um grupo de risco dentre
quatro disponíveis, obedecendo ao grau de
complexidade do caso, conforme ao quadro
apresentada acima.
Os grupos de risco dispoveis para classificação
bem como os critérios analisados na estratificação de
risco são: (1) Grupo de baixo risco: homens e
mulheres menores de 55 e 65 anos respectivamente,
com HAS de grau I e sem fatores de risco; (2) Grupo
de risco médio: indivíduos portadores de hipertensão
grau 1 ou 2, com um ou dois fatores de risco
cardiovascular. Pode ainda, apresentar baixos níveis de
pressão arterial, mas possuir múltiplos fatores de risco.
E ainda, possuir altos níveis pressóricos e nenhum
fator de risco, ou um a dois fatores de risco; (3) Grupo
de risco alto: portadores de HAS grau I ou II
associados a três ou mais fatores de risco associados,
ou eram portadores de hipertensão grau 3 sem outros
fatores de risco; (4) Grupo de risco muito alto:
portadores de HAS grau 3 e que possuem um ou mais
fatores de risco associados, com doença renal ou
cardiovascular já manifesta (11).
Após a coleta, as informações obtidas foram
transcritas e tabuladas com auxílio do Editor
Estatístico Excel versão Microsoft Windows 2007.
Além disso, foi utilizado o software estatístico SPSS
versão 15.0, e o nível de significância foi estabelecido
em 5%. As variáveis foram apresentadas e descritas
em frequência relativa e absoluta.
21 Tatiane Baratieri, Jéssica Dal Santo Ottoni, Maria Luciana Botti, Rita de Cássia Serpa Maicel & Letícia Gramazio Soares
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Foi empregado o teste de correlação de Pearson, que
mede o grau de correlação entre variáveis, de modo
que o coeficienteo r superior a 0,70 indica forte
correlação. Além disso, as variáveis de antecedentes
familiares, diabetes mellitus, tabagismo, IMC e
presença de complicações foram testadas
individualmente, através do teste Qui-quadrado (X2),
quanto à sua influência na determinação do risco.
Devido ao baixo número de observações, utilizou-se a
correção de Yates para adequação do modelo. A
discussão dos dados deu-se com base na literatura
disponível sobre o tema.
A pesquisa foi encaminhada para análise e
aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da
Universidade Estadual do Centro Oeste, conforme
prerrogativas da Resolução n.º 466/2012 do Conselho
Nacional de Saúde do Brasil, que regulamenta as
pesquisas que envolvem seres humanos, com
aprovação pelo parecer de número 082/2012.
Resultados
Quanto ao perfil sociodemográfico (Tabela 1) da
população do estudo, verifica-se 84% (52) é do sexo
feminino e 52% (32) casados. Sobre a faixa etária,
85% (53) dos sujeitos estão entre 40 a 59 anos. Quanto
à etnia, 66% (41) dos cadastrados são brancos. Na
análise da variável escolaridade, evidenciou-se uma
predominância de 42 (68%) de indivíduos com ensino
fundamental.
Tabela 1. Perfil sociodemográfico dos usuários
cadastrados no Hiperdia. (n=62). Pitanga, PR, Brasil,
2012.
Variável
Frec. Obs.
Sexo
Feminino
52
Masculino
10
Estado
civil
Solteiro
8
Casado
32
Viúvo
9
Divorciado
8
Mora com companheiro
5
Faixa
etária
(anos)
20 a 29
1
30 a 39
8
40 a 49
20
50 a 59
33
Raça/Cor
Branca
41
Parda
14
Preta
7
Escolarid
ade
Não alfabetizado
5
Ensino Fundamental
42
Ensino Médio
9
Ensino Superior I
6
A Tabela 2 apresenta forte correlação entre idade e
grau de risco, sendo que todas as variáveis
apresentaram significância estatística (p≤0,05).
Evidencia-se que quanto maior a idade maior é o
surgimento de risco, além disso, os dados reportam
que conforme o aumento da idade o grau de risco
também aumenta, sendo que a maioria das pessoas
entre 50-59 anos encontram-se com grau de risco alto,
14(23%), ou muito alto, 5 (8%), representando a
maioria, 19(58%) das pessoas na referida faixa etária.
Evidencia-se que 39% (24) dos indivíduos
pesquisados estão com risco alto para agravo
cardiovascular e sete (12%) com risco muito alto,
correspondendo à maioria dos adultos pesquisados.
Tabela 2. Distribuição dos hipertensos e/ou diabéticos,
conforme relação entre classificação de risco e faixa
etária. (n=62). Pitanga, PR, Brasil, 2012.
Faixa
etária
Grau de risco
Total
Baixo
Médio
Alto
Muito
Alto
20-29
n
1
-
-
-
1
%
2
-
-
-
2
30-39
n
2
1
3
2
8
%
3
2
5
3
13
40-49
n
8
5
7
0
20
%
13
8
11
0
32
50-59
n
10
4
14
5
33
%
16
6
23
8
53
Total
n
21
10
24
7
-
%
33
16
39
12
-
r*
0,96
0,87
0,98
0,71
-
p-Valor
0,00072
0,00175
0,00047
0,00494
-
*r: coeficiente de correlação de Pearson superior a 0,70 representa
forte correlação.
Ao tratar sobre os fatores de risco cardiovasculares
prevalentes na população pesquisada (Tabela 3), a
presença de antecedentes familiares está em 39% (24)
da população cadastrada.
Com relação ao fator de risco diabetes, 27% (17) dos
indivíduos apresenta essa doença. Ao realizar o
levantamento sobre a amostra total de fumantes, pode-
Risco Cardiovascular em Usuários de Programa de Atenção a Hipertensos e Diabéticos em um Município do Paraná-Brasil 22
Cienc. innov. salud. Junio 2014; 2 (1):18 26. Universidad Simón Bolívar (Col). ISSN: 2344-8636
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se observar que 29% (18) dos participantes apresenta o
referido fator de risco.
Com relação ao sedentarismo está presente em 47%
(29) da população pesquisada. Outro dado relevante
foi com relação ao sobrepeso/obesidade dos sujeitos
do estudo, sendo que 66% (41) estão com peso acima
do ideal.
Ao analisar a relação entre fatores de risco e a
estratificação de risco dos pesquisados, comparado o
valor crítico de Qui-quadrado (χ²c) igual a 7.815, com
grau três de liberdade, aos valores de Qui-quadrado
calculados para os indicadores de risco (Tabela 3),
observa-se que todos se confirmam na definição do
grau de risco; entretanto, apenas os fatores de risco
como antecedentes familiares e presença de
complicações apresentaram significância estatística
(p≤0,05).
Tabela 3. Distribuição dos hipertensos e/ou diabéticos, conforme a relação entre fatores de risco cardiovascular e grau de risco (n=62). Pitanga, PR,
Brasil, 2012.
Fatores de risco
Risco baixo
Risco médio
Risco alto
Risco muito alto
Total
χ²
Valor de
p
Frec. Obs.
Rep. %
Frec. Obs.
Rep. %
Frec. Obs.
Rep. %
Frec. Obs.
Rep. %
Frec. Obs.
Rep. %
Antecedentes
familiares
Sim
--
--
2
20
17
71
5
71
24
39
24,6
0,05
Não
21
100
8
80
7
29
2
29
38
61
Diabetes
Mellitus
Sim
--
--
--
--
20
83
7
100
17
27
43,32
0,9
Não
21
100
10
100
4
17
--
--
45
73
Tabagismo
Sim
--
--
4
40
11
46
3
43
18
29
10,48
0,6
Não
21
100
6
60
13
54
4
57
44
71
Sedentarismo
Sim
--
--
4
40
22
92
3
43
29
47
34,33
0,6
Não
21
100
6
60
2
8
4
57
33
53
IMC
Sobrepeso/
Obesidade
--
--
10
100
24
100
7
100
41
66
56,88
0,1
Normal
21
100
--
--
--
--
--
--
21
34
Presença de
complicações
Sim
--
--
--
--
7
29
7
100
14
23
28,72
0,001
Não
21
100
10
100
17
71
--
--
48
77
Discusión
Ao tratar sobre o perfil sociodemográfico dos
participantes do estudo, os achados, em relação ao
sexo, corroboram com a literatura, que aponta maior
prevalência de fatores de risco para DCNT na
população feminina (12,13). Dados semelhantes são
apontados em outros estudos, também em relação à
situação conjugal, havendo prevalência do estado civil
casado (14).
Salienta-se que a família é considerada um fator
positivo para o enfrentamento de doenças, pois
estimula o tratamento terapêutico, o que aumenta as
chances de sucesso e adesão às orientações fornecidas
(15).
A presenta de DCNT no presenta estudo é maior de
50 a 59 anos, o que está em conformidade com a
literatura sobre o tema (12,16).
No que tange à etnia, houve maior número de
participantes brancos, destacando-se que o Paraná foi
colonizado por europeus, o que pode esclarecer a
predominância da raça branca no estudo, sendo um
atributo regional (17). Entretanto, outros estudos
apontam que indivíduos negros têm níveis pressóricos
mais elevados que os de outras raças, porém vem se
observando variações de prevalência da hipertensão
em outras etnias (12,18).
Outro dado também encontrado na literatura é a
predominância de pessoas com ensino fundamental
incompleto (12). Quanto menor o nível de
escolaridade maior a chance de se desenvolver a HAS,
e mais difícil é o seu controle (18). Este achado é
preocupante, pois estes indivíduos requerem um nível
de cuidado organizado, tanto nos medicamentos
quanto na alimentação, e a baixa escolaridade dificulta
a compreensão e consequentemente o processo
educação em saúde destes usuários para a promoção
do autocuidado e autonomia, impactando na qualidade
de vida (8).
O presente estudo evidenciou que a maioria dos
usuários pesquisados apresenta risco alto e muito alto
23 Tatiane Baratieri, Jéssica Dal Santo Ottoni, Maria Luciana Botti, Rita de Cássia Serpa Maicel & Letícia Gramazio Soares
Cienc. innov. salud. Junio 2014; 2 (1):18 26. Universidad Simón Bolívar (Col). ISSN: 2344-8636
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para evento cardiovascular. A literatura aponta que
pessoas classificadas com risco baixo têm menos de
10% de chances de ocorrência de evento
cardiovascular nos próximo 10 anos, pessoas com
risco médio têm de 10 a 20% de chances, já a pessoa
classificada com risco alto e muito alto tem de 20% a
30% de chances de serem acometidos por um evento
cardiovascular nos próximos 10 anos (19, 20).
Sobre a estratificação de risco verificou-se forte
correlação entre aumento da idade e risco. Outros
estudos evidenciaram dados semelhantes, salientando
que o risco cardiovascular aumenta conforme aumenta
a idade (12,14).
Os resultados evidenciam então, que a prevalência
de fatores de risco cardiovasculares está
proporcionalmente relacionada com o processo de
envelhecimento. Entretanto, deve-se ressaltar que entre
adultos jovens, com faixa etária de 20 a 40 anos,
observa-se que é progressivo o aumento da ocorrência
de doenças crônicas e a presença de fatores de risco
(9).
Os fatores de risco cardiovascular são
condições/agravos que predispõe um indivíduo ao
risco de um evento cardiovascular (2, 18), podendo ser
classificados como modificáveis e não modificáveis
(21).
Sobre o fator de risco “antecedentes familiares
(cardiovascular)”, o presente estudo apresentou dados
semelhantes à literatura (13,22). Apesar do referido
fator de risco não ser modificável, o risco de agravos à
saúde pode ser minimizado por meio de estratégias de
promoção da saúde e prevenção de agravos.
Sobre a presença de diabetes, o estudo também
corrobora com a literatura (23). A diabetes mellitus é
uma das principais doenças causadoras de
complicações cardiovasculares fatais e não fatais,
constituindo-se em um fator de risco não modificável,
porém passível de controle (23).
Estudo realizado em Porto Alegre/RS (8),
apresentou dados semelhantes à presente pesquisa no
que se refere ao fator de risco tabagismo.
O controle do tabagismo seria uma das medidas que
mais provocaria impacto na redução dos índices de
morbimortalidade por doenças cardiovasculares, pois
é confirmada a sua associação ao aumento das
placas de ateroma e o seu efeito no perfil lipídico
(24,25). Neste sentido, para a população referida neste
estudo, seria de grande relevância a oferta de ações
educativas, no sentido de incentivar práticas saudáveis,
e, aos tabagistas, direcionar para grupos de apoio, com
o intuito de expor riscos e, possivelmente, cessar o uso
do tabaco.
No que se refere ao sedentarismo o presente estudo
apresentou alta prevalência, corroborando com
pesquisa sobre o Hiperdia em uma cidade de Santa
Catarina que levantou que 59,7% dos indivíduos
cadastrados eram sedentários, sendo esta realizada
com todas as unidades de saúde da família do
município participante (26). A literatura aponta que
pessoas sedentárias têm 30% a mais de chances de
desenvolver hipertensão, ou agravar seus níveis
pressóricos, do que os ativos (26).
É válido ressaltar que estimativas mostram que a
falta de atividade física é responsável por 10% a 16%
dos casos de diabetes e 22% das doenças isquêmicas,
além disso, estes têm influência direta no controle da
diabetes e hipertensão (8,15). Frente ao exposto,
destaca-se a importância do incentivo por parte dos
profissionais de saúde à realização de atividade física
aos portadores de HAS e ou DM, considerando os
benefícios que esta prática oferece para prevenir e/ou
reduzir os agravos cardiovasculares.
Outro fator de risco de destaque é o excesso de peso,
o qual se constitui atualmente em um problema de
saúde pública (27), e fator predisponente para a
hipertensão e para o aumento dos valores pressóricos
em indivíduos já hipertensos, salientado que de 20% a
30% da prevalência de hipertensão pode ser explicada
pela presença de excesso de peso (17).
Os fatores de risco sedentarismo, sobrepeso e
obesidade, são os que estão mais associados às
complicações crônicas decorrentes da DM e da HAS,
principalmente em relação às doenças cardiovasculares
(8), dados esses encontrados no presente estudo como
principais fatores determinantes do grau de risco.
Pequenas perdas de peso, de 5% a 10% do peso
inicial, promovem melhora no controle da glicemia,
reduzem valores pressóricos e também dos níveis de
colesterol (28), ou seja, favorecem o controle dos
fatores de risco associados, conforme evidenciado no
estudo.
Com relação ao diabetes, a perda de peso melhora os
níveis de glicemia capilar em 10% a 20%. Sendo que
estes benefícios podem ser mantidos por até três anos,
Risco Cardiovascular em Usuários de Programa de Atenção a Hipertensos e Diabéticos em um Município do Paraná-Brasil 24
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mesmo com um aumento significativo de peso (28), ou
seja, os fatores de risco estão relacionados para a
redução de risco cardiovascular em pessoas com
DCNT.
A literatura aponta que a variação da distribuição de
gordura em determinadas partes do corpo é um
indicador mais importante de complicações
metabólicas do que o valor de índice de massa
corporal. Desta forma, a obesidade visceral resulta em
inúmeras alterações fisiopatológicas, as quais
implicam na resistência do organismo a insulina (29).
Tanto o excesso de peso quanto a adiposidade
abdominal, tem sido associados aos elevados níveis
pressóricos e a síndrome metabólica em indivíduos
com DM tipo II, tornando fundamental o
conhecimento desses usuários sobre a patologia, para
que possa-lhes ser oferecido um melhor tratamento e
controle (29), prevenido as complicações, fator esse
que também aumenta o risco cardiovascular, variável
não incluída no presente estudo.
Os resultados do presente estudo levam a refletir
sobre a necessidade de planejamento na assistência em
saúde a fim de prevenir agravos cardiovasculares,
diminuindo o grau de risco e as chances de ocorrência
de um evento cardiovascular. Além disso, a atenção
dos profissionais de saúde precisa aumentar às pessoas
com DCNT conforme o aumento da idade.
A estratificação de risco permite determinar a
melhor assistência ao usuário, evitando as
consequências que tais fatores de risco podem trazer
ao mesmo, além de aumentar a resolutividade no
âmbito da atenção primária e reduzir custos, não
somente pela oferta de serviços a usuários que por
vezes não necessitam, mas principalmente pela oferta
adequada a quem de fato necessita de determinada
tecnologia.
Destaca-se que a população em estudo encontra-se
em idade adulta, e a ocorrência de um evento
cardiovascular nessa fase da vida traz impactos tanto
para o indivíduo e sua família, como para os sistema,
gerando custos tanto para o setor de saúde como para a
economia do país, frente a perda das pessoas em idade
produtiva; sugere complementação de um futuro
estudo onde seja contemplado indicadores econômicos
e projeções do impacto da doença no sistema de saúde.
O presente estudo apresenta como principal
limitação o número da população estudada, não
permitindo generalizações, porém os dados
encontrados corroboram com a literatura sobre o tema.
Desta forma, destaca-se neste estudo a importância
da estratificação de risco como ferramenta de
pesquisa, de diagnóstico inicial, avaliação e
intervencao do risco para realização do levantamento
de fatores de risco cardiovascular, o que permite
direcionar o cuidado para a prevenção da ocorrência
de evento cardiovascular nos próximos 10 anos, o que
impacta em maior qualidade de vida das pessoas em
idade adulta com DNCT e menores custos para o país,
possibilitando que pessoas com essas doenças possam
manter-se ativas no mercado de trabalho. Além disso,
os dados apontam para a necessidade de maior atenção
às pessoas conforme o aumento da idade.
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