Psicogente, 18 (33): pp. 104-116. Enero-Junio, 2015. Universidad Simón Bolívar. Barranquilla, Colombia. ISSN 0124-0137 EISSN 2027-212X
http://publicaciones.unisimonbolivar.edu.co/rdigital/psicogente/index.php/psicogente
* O trabalho apresentado faz parte da tese de doutorado intitulada Síndrome de Burnout em Psicólogos financiada pela CAPES.
1 Doctora en Psicología. Docente da Facultad del Desarrollo del Rio Grande de Sul-FADERGS y Facultad Decision de Negocios. Email: sandra.rodriguez@
fadergs.edu.br
2 Doctora en Psicología Social. Docente del programa de pós-grado de Psicología da Universidad Pontificia Católica de Rio Grande Do Sul. Email: mary.
sandra@pucrs.br
Estudiante de Psicología da Universidad Pontificia Católica de Rio Grande Do Sul. Email: daniogliari@hotmail.com
Estudiante de Psicología da Universidad Pontificia Católica de Rio Grande Do Sul. Email: Klebergiodani@hotmail.com
Resumo
Trata-se de um estudo cujo objetivo foi identificar e analisar os estressores ocupacionais referidos
por 129 psicólogos clínicos. A análise das respostas foi realizada por meio da técnica da análise
temática ou categorial. Foram identificados estressores na profissão do psicólogo clínico como:
baixos ganhos financeiros, sobrecarga, a pouca autonomia e reconhecimento, esforços e recursos
físicos, desgastes emocionais, relacionamentos com colegas, pacientes e chefias, deficiências orga-
nizacionais, políticas públicas, diretrizes governamentais e compromissos com a profissão. Foram
verificadas mudanças nos estressores ocupacionais dos psicólogos clínicos derivadas do crescente
assalariamento dos profissionais. Discutem-se alternativas de prevenção e com vista à redução do
estresse ocupacional dos psicólogos clínicos.
Resumen
Se trata de un estudio que tuvo como objetivo identificar y analizar los factores de estrés en el
trabajo referidos por 129 psicólogos clínicos. El análisis de las respuestas se realizó mediante la
técnica del análisis temático o categorial. Fueron identificados los factores de estrés en la profe-
sión del psicólogo clínico como: bajos beneficios económicos, sobrecarga, la poca autonomía y re-
conocimiento, esfuerzos y recursos físicos, agotamiento emocional, relación con los compañeros,
pacientes y autoridades, deficiencias organizativas, políticas públicas, directrices gubernamentales
y compromisos con la profesión. Fueron verificados cambios en los factores de estrés laboral de
los psicólogos clínicos derivados del aumento de la remuneración de los profesionales. Se discu-
ten alternativas para prevenir y reducir el estrés en el trabajo de los psicólogos clínicos.
Abstract
To identify and analyze stress factors in clinical psychologists such as positions of low financial
gain; those overloaded with work, and with low autonomy and recognition; those implement-
ing great physical efforts and resources; those under emotional distresses; in relationships with
coworkers, patients and managers and with organizational deficiencies; and unable to adhere to
public policies; government directives; and commitments in their career. 129 clinical psycholo-
gists were polled and the responses were analyzed through a thematic or categorical analysis tech-
nique, as addressed in this study. Changes in occupational stress in clinical psychologists were
observed and alternatives to prevent and to reduce clinical psychologists’ occupational stress are
discussed.
Palavras-chave:
Psicologia, Psicologia clínica,
Estresse ocupacional,
Saúde ocupacional.
Palabras clave:
Psicología, Psicología clínica,
Estrés laboral,
Salud ocupacional.
Key words:
Psychology, Clinical psychology,
Occupational stress,
Occupational health.
Referencia de este artículo (APA):
Spiendler, S., Carlotto, M., Ogliari, D., Giordani, K. (2015). Estressores ocupacionais em psicólogos clínicos brasileiros. Psicogente, 18(33),
104-116. http://doi.org/
10.17081/psico.18.33.59
ESTRESSORES OCUPACIONAIS EM PSICÓLOGOS
CLÍNICOS BRASILEIROS*
OCCUPATIONAL STRESS IN BRAZILIAN CLINICAL PSYCHOLOGISTS
Recibido: 19 de agosto de 2014/Aceptado: 19 de septiembre de 2014
http://doi.org/10.17081/psico.18.33.59
SANDRA YVONNE SPIENDLER RODRIGUEZ
1
, MARY SANDRA CARLOTTO
2
,
DANIELA OGLIARI
, KLEBER GIORDANI
Pontifícia Universidade Católica do RGS - Brasil
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http://publicaciones.unisimonbolivar.edu.co/rdigital/psicogente/index.php/psicogente
INTRODUÇÃO
O trabalho é um importante aspecto da qualida-
de de vida das pessoas. Embora tenha efeito benéfico,
também, tem se apresentado como fonte de múltiplos
riscos à saúde mental dos trabalhadores (Nieuwenhuij-
sen, Bruinvels & Frings-Dresen, 2010). O estresse ocu-
pacional é um desses riscos que comprometem o bem-
estar do indivíduo (Koltermann, Koltermann, Tomasi
& Horta, 2011). Profissionais, geralmente, buscam satis-
fação e realização no seu trabalho, no entanto estar sob
o estímulo de constante pressão, que exija muito esforço
físico, mental e emocional no trabalho, pode resultar em
estresse ocupacional (Furegato, 2012).
Os estressores organizacionais podem ser de na-
tureza física (barulho, ventilação e iluminação do local
de trabalho) ou psicossocial (fatores intrínsecos ao tra-
balho, aspectos do relacionamento interpessoal no tra-
balho, autonomia/controle no trabalho e fatores relacio-
nados ao desenvolvimento da carreira) (Paschoal & Ta-
mayo, 2005). A competitividade, a busca pela segurança
pessoal e econômica e a competência profissional, têm
sido também apontadas como importantes estressores
laborais nas mais diversas profissões (Furegato, 2012).
Revisão sistemática da literatura realizada por Nieuwen-
huijsen et al. (2010) aponta, como importantes estresso-
res relacionados a problemas de saúde, as altas deman-
das e o baixo controle sobre o trabalho, falta de apoio
de colegas e chefias de trabalho, iniquidade relacional e
desequilíbrio entre elevado esforço e baixa recompensa.
Estudos sobre o estresse no trabalho, nas mais variadas
categorias profissionais, têm sido objeto de pesquisa na
atualidade, em âmbito nacional e internacional (Cole-
ta & Coleta, 2008; Devereux, Hastings, Noone, Firth
& Totsika, 2009; Koltermann, Koltermann, Tomasi &
Horta, 2011).
O profissional de saúde, categoria na qual se
incluem os psicólogos (Ferrari, França & Magalhães,
2012), dada sua especificidade de trabalho, envolve-se
em condições e rotinas de trabalho tangenciadas pelo
estresse laboral, o que pode resultar em vivências de
adoecimento (Lasalvia, Bonetto, Bertani, Bissoli, Cris-
tofalo & Marrella, 2009; Soares, Souza, Castro & Al-
ves, 2011). Particularmente, a prática da psicologia está
permeada por demandas emocionais intensas, por vezes,
excessivas, que exigem uma relação próxima com as pes-
soas, o que a torna suscetível aos estressores ocupacio-
nais (Moreno-Jiménez, Meda-Lara, Morante-Benadero,
Rodríguez-Munõz & Palomera-Chávez, 2006).
Na contemporaneidade, o trabalho do psicólogo
permite inúmeras possibilidades de inserção, privile-
giando perspectivas de análise e intervenção em âmbi-
tos individuais e coletivos e em múltiplos contextos. As
necessidades advindas das mudanças sociais e, portan-
to, dos novos cenários sociopolíticos e econômicos pro-
vocam, além das ilimitadas oportunidades, o aumento
da complexidade e do estresse ocupacional (Macêdo &
Dimenstein, 2011). Em decorrência dessas mudanças so-
ciais, o desempenho dos profissionais da área da saúde
é acompanhado pela expectativa de altos níveis de com-
petência e de responsabilidade no seu trabalho, o que
contribui para a elevação do estresse ocupacional. Nes-
te sentido, tornam-se necessários investimentos quanto
ao conhecimento das situações geradoras de estresse na
vida das pessoas, considerando suas consequências ne-
gativas tanto em termos de produtividade, absenteísmo,
qualidade na prestação de serviços, assim como proble-
mas de saúde física e mental (Furegato, 2012).
O psicólogo clínico é um profissional que atua na
área da saúde realizando prevenção, tratamento e aten-
dimento psicoterápico individual ou grupal de crianças,
adolescentes, adultos ou idosos, exerce a atividade de
forma individual ou com equipes multiprofissionais em
106
contextos formais ou informais (Conselho Federal de
Psicologia, 1992). A especificidade de trabalho desses
profissionais envolve contingências laborais de deman-
das nas quais se evidencia alta carga emocional, o que
torna o exercício profissional da psicologia clínica uma
função de vulnerabilidade ao estresse (Roque & Soares,
2012).
Assim, o estudo dos fatores de risco ao estresse
tem direcionado a pauta dos pesquisadores e conduzido
o enfoque dos estudos com o fim de se identificar tais
estressores presentes no trabalho dos psicólogos clínicos
e, então, pensar nas melhores alternativas para reduzir
seus efeitos. A sobrecarga de trabalho, baixa remune-
ração, instabilidade financeira, estrutura física precária,
relacionamento com outros profissionais e demanda
emocional relacionada com a prática clínica são fre-
quentemente apontados como estressores presentes no
contexto laboral da psicologia clínica (Almeida, 2012;
Santos & Cardoso, 2010; Sanzovo & Coelho, 2007).
Sob a perspectiva de suas consequências, tais estressores
implicam manifestações de baixa qualidade de vida dos
psicólogos clínicos, por conseguinte, ocasionando pro-
blemas atinentes à saúde física, como sensações de can-
saço, exaustão, dificuldades para se levantar e adorme-
cer, má alimentação, manutenção de vícios, baixa libido,
assim como encefaleia (Gomes & Cruz, 2004).
Ao investigarem os estressores profissionais em
psicólogos clínicos portugueses, Gomes e Cruz (2004)
apontam que as mulheres experimentam maiores níveis
de estresse em relação aos homens. Em decorrência dis-
so, as mulheres apresentam maiores problemas de saú-
de física, menores níveis de satisfação profissional e um
maior desejo de abandonar a profissão. Paralelamente,
nos homens, os estressores estão relacionados com a in-
competência profissional, inflexibilidade e a pouca expe-
riência dos seus superiores hierárquicos, bem como ao
envolvimento excessivo com o trabalho.
Em recente estudo realizado por Almeida (2012),
com psicólogos portugueses algarvios que atuam em
instituições de saúde com psicologia clínica, identifica-
ram-se estressores muito semelhantes aos do estudo de
Gomes e Cruz (2004), revelando estressores associados à
sobrecarga de trabalho, falta de tempo para realizar ade-
quadamente as tarefas profissionais, ao envolvimento
excessivo com as demandas burocráticas, às dificuldades
derivadas da relação com os superiores, especificamente
quando estes são percebidos como inexperientes, incom-
petentes e inflexíveis, à assunção de papéis indesejados,
os quais pressupõem a tomada de decisão na qual as
consequências possam ser graves e, por fim, à falta de
desenvolvimento e promoção de carreira.
Nessa perspectiva, estudos vêm apontando que,
no cotidiano do trabalho do psicólogo clínico, encon-
tram-se presentes variados fatores de risco ao estresse la-
boral. As contingências estressoras às quais os psicólogos
clínicos se submetem comprometem a qualidade do tra-
balho e do serviço prestado à pessoa atendida (Sanzovo
& Coelho, 2007). Além disso, as situações geradoras de
estresse também repercutem negativamente em termos
de produtividade, absenteísmo e na qualidade da saú-
de física e mental (Furegato, 2012). Portanto, é funda-
mental conhecer e reconhecer a presença dos estressores
ocupacionais, bem como seus impactos à saúde do tra-
balhador. Por isso, o presente estudo buscou identificar
e analisar os estressores ocupacionais referidos por psicó-
logos que atuam na área clínica.
MÉTODO
Delineamento
Trata-se de um estudo observacional descritivo
transversal.
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Participantes
Participaram do estudo 129 psicólogos clínicos
que atuam no estado do Rio Grande do Sul. O critério
de inclusão foi atuar na área há mais de um ano. A maio-
ria dos participantes é do sexo feminino (91,5 %), com
filhos (59,7 %) e estado civil casado (53,5 %). A idade
média desses profissionais é de 36,4 anos (DP = 11,12)
e possuem de 1 a 39 anos de experiência profissional
(M = 13,14, DP = 10,12). Atendem, diariamente, de 1
a 50 pacientes (M = 8, DP = 7). A maioria exerce suas
atividades somente na área clínica (82,9 %). Quanto à
formação, 49,6 % dos psicólogos possuem formação em
nível de especialização; 34,1 %, em nível de mestrado
e/ou doutorado; e 16,3 % possuem graduação. Quan-
to à remuneração, considerando-se como parâmetro o
salário mínimo (SM) regional do Rio Grande do Sul de
R$868,00, 44,2 % recebem de 3 a 6 SM ; 37,2 %, acima
de 6 SM; e 18,8 %, de 1 a 3 SM.
Instrumento
Questionário de dados sociodemográficos (sexo,
idade, situação conjugal, filhos, remuneração) e laborais
(formação, tempo de experiência profissional, quantida-
de de pessoas atendidas diariamente, tipos de áreas de
atuação na psicologia). Para o presente estudo, foi uti-
lizada uma questão aberta acerca dos fatores de estresse
na profissão.
Procedimentos
Os dados do estudo foram coletados no primeiro
semestre de 2014 por meio de pesquisa on-line e parti-
cipação voluntária dos psicólogos. Para fins de recruta-
mento dos participantes, foi utilizada a técnica do Res-
pondent Driven Sampling (RDS), na qual os primeiros par-
ticipantes (1ª onda) enviam o convite para novos partici-
pantes (2ª onda) até que se alcance o tamanho desejado
da amostra (Goel & Salganik, 2009). Os participantes
da 1ª onda foram 644 psicólogos, cujos e-mails foram
obtidos por meio de consulta aos sites de associações,
fundações, sindicatos e demais órgãos representativos
da classe. Os psicólogos receberam um e-mail convite, e
aqueles que aceitavam o convite para participar do estu-
do assinalaram com um “X” o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido, assim, respeitando-se as diretrizes éti-
cas da Resolução 466 do Conselho Nacional de Saúde
no tocante à realização de pesquisa com seres humanos
(Ministério da Saúde, 2012). O estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da PUC/RS sob o Parecer
nº 445847.
Para o tratamento dos dados, utilizou-se a técnica
da análise temática ou categorial que, de acordo com
Bardin (2002), baseia-se em operações de desmembra-
mento do texto em unidades, ou seja, busca-se descobrir
os diferentes núcleos de sentido que constituem a co-
municação para, posteriormente, realizar o seu reagru-
pamento em classes ou categorias.
Após a exploração do material recolhido, reali-
zou-se a codificação, quando foram realizados recortes
em ‘unidades de contexto’ e de ‘registro’ de cada uma
das respostas dos participantes. Em seguida, procedeu-
se à fase da categorização e subcategorização das respos-
tas. Por fim, a categorização proposta foi encaminhada a
dois juízes, psicólogos-pesquisadores com conhecimento
do tema em estudo, para posterior cálculo de concor-
dância, ou seja, para verificação da fidedignidade da ca-
tegorização realizada pelas pesquisadoras com o intuito
de evitar possíveis vieses (Belei, Gimeniz-Paschoal, Nas-
cimento, & Matsumoto, 2008). Em consonância com
Fagundes (1999), esta categorização é aceitável quando a
classificação do pesquisador e dos juízes atinge um índi-
ce de concordância mínimo de 70 %.
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RESULTADOS
Verifica-se que os estressores relatados se agrupa-
ram tematicamente em seis categorias que evidenciam
as características do trabalho do psicólogo, que foram
diferentes para profissionais autônomos e assalariados,
os relacionamentos que se estabelecem em seu trabalho,
o tipo de trabalho, predominantemente emocional, os
aspectos organizacionais, externos ao contexto específi-
co de trabalho e as diferentes exigências da profissão.
O produto final da categorização e subcategorização das
respostas, encontra-se apresentado no Quadro 1.
duas modalidades de trabalho: os psicólogos clínicos
que atuam como autônomos em seus consultórios parti-
culares e aqueles que atuam como assalariados, exercen-
do a psicologia clínica nas mais variadas instituições de
saúde.
Características do Trabalho
A partir da análise das respostas foi possível iden-
tificar que uma das categorias de estressores ocupacio-
nais refere-se ao conteúdo do trabalho. Nessa categoria,
a subcategoria mais referida como elemento estressor no
Quadro 1. Fatores estressantes na percepção dos Psicólogos Clínicos
Categorias Subcategorias
Características do Trabalho Profissionais Autônomos-Poucos Ganhos financeiros, excesso
de atividades profissionais concomitantes.
Profissionais Assalariados-Falta de autonomia, sobrecarga de
atendimento, pouco reconhecimento, baixa remuneração, ne-
cessidade de esforços e recursos físicos.
Relacionamento Interpessoal Conflitos com colegas, pacientes, chefias.
Trabalho Emocional Demanda psicológica, esforço emocional, manejo do sofri-
mento dos pacientes.
Fatores Organizacionais Falta de diretrizes políticas, rotatividade de pessoal, falta de
contratação de profissionais.
Fatores Externos Falta de políticas públicas, desunião da categoria profissional.
Exigências da profissão Supervisão, necessidade de realização de psicoterapia pessoal,
aperfeiçoamento constante.
DISCUSSÃO
A psicologia clínica tem, ao longo dos últimos
anos, passado por significativas mudanças que pressu-
põem alterações na sua prática devido à emergência de
uma atuação voltada ao contexto social (Dutra, 2004).
Assim, ampliou seu campo e forma de atuação, não sen-
do mais restrita ao atendimento individual, geralmente,
realizado em clínica privada. A análise das respostas dos
psicólogos clínicos avaliados indica a presença dessas
trabalho de psicólogos autônomos foi a baixa remune-
ração dos profissionais, fato vinculado aonúmero reduzi-
do de pacientes que efetivamente seguem o tratamento
e ocasiona instabilidade financeira, conforme ilustrado
na falas a seguir: “Falta de uma rotina, pois na clínica não
há como saber se você vai terminar o ano com um determinado
número de pacientes. Os meses de janeiro e fevereiro também
são delicados financeiramente”. A instabilidade financeira”.
“Baixos honorários”. “Baixos ganhos pelos altos impostos que
se tem para exercer a profissão”. Os psicólogos, de forma
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geral, estão diretamente afetados pelas mudanças socio-
políticas e econômicas que implicam em novas tensões
no trabalho, tais como o aumento de carga de trabalho,
incertezas financeiras e perda de autonomia profissional
(Rupert & Morgan, 2005). O decréscimo dos ganhos fi-
nanceiros que acomete o psicólogo foi identificado em
estudo conduzido com psicólogos em 2008, de âmbito
nacional, por Bastos, Gondim e Borges-Andrade (2011),
que evidenciaram que a renda salarial do psicólogo so-
freu um decréscimo de quase 50 %, quando comparada
à remuneração percebida na década de 1980. Pode-se
pensar, a partir disso, que o psicólogo clínico, também,
foi afetado por essas intercorrências que afetam os pro-
fissionais da psicologia, independente da área em que
atuem.
As respostas analisadas também permitem obser-
var que os psicólogos clínicos que atuam em consultó-
rios particulares se sentem sobrecarregados, tendo em
vista que não possuem dedicação exclusiva a essa área
de atuação, conciliando atividades profissionais em ou-
tros âmbitos da psicologia, fator este que pode ser poten-
cializador da sobrecarga percebida na profissão, como
ilustram as respostas a seguir: “Excesso de atividades na
área acadêmica como docente, pesquisador, coordenador de
pós-graduação. Dificuldade de conciliar o trabalho acadêmico
com o trabalho em consultório como psicóloga clínica em algu-
mas situações”. “Excesso de carga de trabalho para que se pos-
sa obter remuneração justa”. Coerente com os resultados
do estudo de Bastos, Gondim e Borges-Andrade (2011),
pode-se pensar que a crescente perda de poder aquisiti-
vo e a fragilidade do mercado de trabalho sejam razões
importantes para que o psicólogo combine inserções em
várias áreas na tentativa de manter um poder aquisitivo
desejado. Por sua vez, o franco desenvolvimento da psi-
cologia (Bastos et al., 2011) potencializa oportunidades
de inserção profissional, podendo a atuação concomi-
tante em várias áreas ser um reflexo positivo da consoli-
dação da psicologia como profissão.
A sobrecarga e a perda de autonomia sobre o
trabalho, vinculadas ao envolvimento com atividades
extras à função de psicólogo clínico, como as tarefas ad-
ministrativas e burocráticas e a quantidade de pacientes
atendidos diariamente, são fatores apontados pelos pro-
fissionais assalariados. Na profissão do psicólogo, tem se
assistido ao crescente assalariamento dos profissionais.
Assim, o trabalho autônomo, desde a década de 1980,
tem cedido espaço para a inserção em instituições, es-
pecialmente nas do serviço público e de saúde, sendo a
sobrecarga laboral e a perda da autonomia decorrências
disso (Bastos et al., 2011). Foi possível perceber que o
modelo de atuação de trabalhador assalariado em subs-
tituição ao modelo de atuação liberal pode começar a
delimitar algumas mudanças iniciais nos estressores do
psicólogo clínico. Assim, se anteriormente os estressores
laborais limitavam-se aos fatores intrínsecos da relação
terapeuta-paciente, na atualidade, extrapolam essa re-
lação, incluindo novos contextos do trabalho. Assim,
infere-se que os novos vínculos de trabalho possam tor-
nar a presença dos estressores ocupacionais um processo
mais complexo do que aquele existente na prática do
trabalho autônomo na medida em que o trabalho assa-
lariado diferencia-se do liberal por limitar a autonomia
e o controle sobre o trabalho, o que pode potencializar
o efeito dos estressores laborais (Camelo & Angerami,
2008).
Identifica-se também, a partir das respostas, que
os psicólogos clínicos assalariados não percebem o re-
conhecimento pelo seu esforço no trabalho. “Falta de
reconhecimento com remuneração baixa e pouca perspectiva
de aumento salarial”. “Falta reconhecimento por salário ade-
quado”. Tal fato pode ser consequência da representação
social que a psicologia e o psicólogo possuem para a
população geral. Em estudo realizado com 271 sujeitos
que avaliou a representação social da profissão e dos pro-
fissionais de psicologia, chamou a atenção dos autores
que 11 % dos entrevistados não souberam responder
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aos questionamentos sob a alegação de desconhecimen-
to total da profissão do psicólogo, o que, possivelmente,
interfira na valorização da profissão frente à sociedade.
Além disso, 8 % dos participantes descreveram os pro-
fissionais da psicologia a partir de uma percepção pe-
jorativa e estereotipada, o que evidencia a presença de
uma distorção sobre o fazer da psicologia (Borsezi, Bor-
tolomasi, Liboni, Reis, Tamanaha & Guimaraes, 2008).
Outro aspecto manifestado nas respostas dos psi-
cólogos assalariados refere-se à falta de estrutura física
nas instituições para atender adequadamente aos pa-
cientes e à exigência de um trabalho sedentário, o qual
é realizado, na maior parte das vezes, sentado. “Ficar
muito tempo trabalhando sentada”, “falta de infraestrutura
física, estrutural”. O número de profissionais que atuam
no âmbito da assistência à saúde pública tem aumen-
tado desde a década de 1970. Contudo a inserção dos
psicólogos na saúde coletiva é marcada por uma história
bastante recente, tendo ocorrido a partir da década de
1980, precipitada pela crise econômica, que afastou os
pacientes dos consultórios particulares, e impulsionada
pelos questionamentos que a própria psicologia se fez
em relação às características individualistas e elitistas da
atuação clínica (Dimenstein, 1998). Diante disso, nas
instituições comprometidas com a promoção da saú-
de mental, a existência do modelo médico-assistencial
tornou-se, até a década de 1980, um espaço profissio-
nal basicamente ocupado pela psiquiatria (Dimenstein,
1998; Ramminger & De Brito, 2008), sendo a inserção
do psicólogo um desafio em franco desenvolvimento.
Neste sentido, impõem-se aos trabalhadores da saúde,
sem exceção aos que atuam com a promoção de saúde
mental na rede pública, precárias condições de trabalho
(Lourenço & Bertani, 2007).
Relacionamento Interpessoal
A segunda categoria foi “relacionamento” com
identificação de três subcategorias de respostas: com
colegas, com pacientes, com chefias. Destas, as dificul-
dades de relacionamentos com os colegas e em equipes
têm sido percebidas como o maior estressor no trabalho.
Tal estressor corrobora o apontado por Campos (1992),
que indica que o trabalho em saúde mental apresenta
dificuldades de cooperação, integração e sinergia no
trabalho das equipes. O trabalho em equipe, seja uni
ou multidisciplinar, é hoje, uma condição básica da
profissão do psicólogo. No que se refere à realização de
trabalho em equipes multiprofissionais nas instituições
de saúde pública, os estressores, por via de regra, estão
presentes em todas as formas de relacionamento que se
estabelecem no trabalho do psicólogo clínico: com os
pacientes e suas famílias, com colegas e superiores hie-
rárquicos (Ribeiro, 2002). Em estudo recente realizado
com 604 psicólogos, Martins e Puente-Palacios (2011) re-
velam que o maior ponto de tensão diz respeito à gestão
dos conflitos, inevitavelmente intrínseco ao trabalho em
equipe, sendo esta modalidade de trabalho um desafio
da profissão do psicólogo clínico. Tal desafio pode ser
decorrente das novas modalidades de trabalho que ul-
trapassam a clínica privada individual e que, por serem
novas, configuram-se como um estressor que ainda ne-
cessita ser aprendido e melhor manejado.
Na subcategoria, relacionamento com os pacien-
tes, pôde-se observar que a origem do estressor, nesse
caso, diz respeito ao desejo de um tratamento com resul-
tados em curto espaço de tempo: “a expectativa de soluções
mágicas e rápidas”. É possível pensar que essa expectativa
esteja relacionada à representação social encontrada nos
estudos realizados com psicólogos na medida em que se
atribui a esse profissional a função de solucionar pro-
blemas por meio de conversas, orientação e aconselha-
mento, sendo a ele associado um poder de cura. Assim,
a dicotomia existente entre as reais possibilidades de tra-
balho do psicólogo clínico e a expectativa de resultados
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imediatos dos pacientes, na prática, gera tensões entre
profissional e paciente, sendo esta uma possível razão
para emergência desses estressores.
Encontrou-se, nas respostas de alguns profissio-
nais, que o relacionamento com chefias, o excesso de
cobrança e a falta de apoio e de compreensão das chefias
são fontes estressoras: “No meu caso, trabalho no serviço pú-
blico, o grande fator de estresse são os responsáveis pelo setor em
que trabalho, que não sabem exatamente o que o psicólogo faz”.
“Falta de reconhecimento e apoio pela chefia”. A percepção
da falta de suporte organizacional já tem sido apontada
como um fator importante de estresse dos trabalhadores
(Tamayo & Tróccoli, 2002). Estudo realizado com 190
psicólogos clínicos australianos, conduzido por Emery,
Wade e McLean (2009), relata que os profissionais que
exercem atividades com vínculo empregatício eparticu-
larmente, em instituições públicas experimentam maior
desgaste profissional.
Trabalho Emocional
Em uma terceira categoria, foram incluídas as
respostas associadas ao desgaste emocional dos profis-
sionais no exercício da psicologia clínica, que foi per-
cebido como importante estressor no cotidiano do tra-
balho, como se detecta nas respostas do tipo: “alto nível
de demanda emocional que o trabalho exige”, “lidar com o
sofrimento é ao mesmo tempo gratificante e desafiador, o que
muitas vezes gera estresse”. Os profissionais que exercem
atendimento a terceiros, como é o caso dos psicólogos,
realizam um trabalho essencialmente emocional, defini-
do, por Schmidt e Diestel (2014), como o gerenciamento
de sentimentos de forma a expressar emoções que são
exigidas no exercício de um papel profissional. O esfor-
ço envolvido neste tipo de trabalho é apontado como
gerador de tensão psicológica e prejudicial à saúde dos
trabalhadores, bem como associado a prejuízos organi-
zacionais (Brotheridge, 2006; Hochschild, 1983). Estu-
do de meta-análise realizado por Lee, Lim,Yang e Lee
(2011), que analisou os antecedentes e consequências
do Burnout em psicólogos clínicos, aponta que quanto
maior o envolvimento do profissional com as demandas
do cliente, maior é a exaustão. Em contrapartida, é tam-
bém essa dedicação, zelo e cuidado com o cliente um
fator associado à realização pessoal do psicólogo clíni-
co. Assim, pode-se colocar como hipótese que a atuação
na psicologia clínica parece produzir efeitos paradoxais,
pois, ao mesmo tempo em que é considerada uma opção
de carreira profissional, a carga emocional inerente a
essa prática, também, produz tensões e estresse.
Fatores Organizacionais
Na categoria “fatores organizacionais”, observa-
se, por parte dos psicólogos com vínculo empregatício,
a manifestação de estressores relacionados às políticas
e diretrizes organizacionais derivadas da gestão pública,
da rotatividade de pessoal e da falta de contratação de
profissionais, o que gera sobrecarga de trabalho, confor-
me evidenciam as respostas a seguir: “pouco número de
profissionais para atender a alta demanda”, “atravessamentos
institucionais tais como decisões político-partidárias”. Estudos
apontam que os profissionais que atuam sem vínculo
empregatício e, portanto, possuem uma carreira inde-
pendente, são os que apresentam menores riscos ocupa-
cionais (Lasalvia, Bonetto, Bertani, Bissoli, Cristofalo &
Marrella, 2009). Por sua vez, os profissionais que atuam
em órgãos públicos estão mais suscetíveis as intempéries
institucionais. As instituições públicas são caracterizadas
pela intensa burocracia corporativa, com tendência à
rigidez, à centralização nas decisões e à gestão política.
Esses traços culturais afetam diretamente os trabalhado-
res, podendo ser, muitas vezes, a causa de insatisfação
e instabilidade (Pires & Macêdo, 2006). Pode-se pensar
que, no exercício do trabalho autônomo, o psicólogo
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clínico possui um maior controle sobre seu trabalho na
medida em que administra sua agenda de atendimentos
a partir da sua disponibilidade, desse modo, conciliando
apenas os desejos e possibilidades do cliente, sendo esta
uma possível hipótese para que o trabalho de atuação
independente apresente menores riscos ocupacionais.
Enquanto isso, o psicólogo que exerce a psicologia clí-
nica em instituições precisa se ajustar às normas e pro-
cedimentos institucionais, as quais, muitas vezes, encon-
tram-se permeadas de atravessamentos políticos e admi-
nistrativos que impedem a autogestão dos profissionais
e, podem, em decorrência disso, precipitar mal-estar e
insatisfação no trabalho.
Fatores Externos
Na categoria “fatores externos”, registram-se res-
postas derivadas da falta de políticas públicas e desunião
da categoria profissional como fontes estressoras do tra-
balho do psicólogo clínico, tal qual ilustram as seguintes
respostas: “Falta de referência do fazer prático em políticas pú-
blicas, como no Sistema Único de Assistência Social (SUAS)”,
“O maior fator de estresse que me acompanha ao longo da
carreira diz respeito ao pouco respaldo político e social que a
profissão tem, mesmo dentro da própria categoria, a qual, de
modo geral, tem uma postura de rivalidade, de formação de
“guetos”, sendo pouco proativa, solidária e unida em prol das
demandas coletivas da profissão”. Segundo Santos e Car-
doso (2010), os fatores que se localizam fora da organi-
zação do trabalho limitam a autonomia do trabalhador
na medida em que, nem sempre, as mudanças desejadas
podem ocorrer por meio da ação individual e, justamen-
te por isso, são percebidos como estressores da profis-
são. Os setores pú blico e privado apresentam-se como
importantes possibilidades de inserç ã o profissional do
psicólogo clínico. Contudo a crise e a falência do Estado
interferem na sua função de agente promotor de bem-
estar social, de forma que, na atualidade, assiste-se a um
cenário de muitas deficiências no cumprimento das de-
mandas sociais e de movimentos historicamente muito
incipientes nas definições de políticas públicas em saúde
mental (Campo & Furtado, 2006; Macê do, Heloani, &
Cassiolato, 2011). Ainda, a percepção de desunião pode
estar associada ao fato de que a categoria profissional do
psicólogo tem uma história bastante recente na medida
em que a profissão do psicólogo foi regulamentada ape-
nas na década de 1960 e sua articulação e consolidação
como profissão se encontra em franco desenvolvimento
(Dimenstein, 1998).
Exigências da Profissão
Na categoria “exigências da profissão”, destaca-
ram-se três importantes subcategorias associadas: su-
pervisão, terapia, aperfeiçoamentos/conhecimentos. A
formação do psicólogo se dá a partir da estruturação de
um tripé constituído de: estudo teórico-análise pessoal-
supervisão. Contudo, embora sua construção se inicie
durante a graduação, após a formação, o tripé continua
sendo um importante alicerce da prática profissional
dos psicólogos clínicos (Guedes, 2006). Ao avaliar a im-
portância da formação continuada dos psicólogos, Silva,
Zanelli e Tolfo (2011) destacam que a região Sul é uma
das que mais oportuniza programas de pós-graduação no
Brasil e, apesar disso, o número de egressos nos progra-
mas de pós-graduação ainda é bastante reduzido. A su-
pervisão deve contemplar a prática clínica na medida em
que se mostra um importante instrumento de reflexão
do profissional, o qual favorece o processo de ensino e
aprendizagem, assim como auxilia no aperfeiçoamento
do manejo clínico (Barreto & Barletta, 2010). O envolvi-
mento dos profissionais com formação continuada, su-
pervisão e terapia são possíveis estressores da profissão
na medida em que exigem investimentos de tempo e de
recursos financeiros. Por isso, a percepção que se tem
em relação à importância do tripé no exercício da pro-
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fissão acaba exercendo certa pressão aos profissionais e
colaborando para que ele seja percebido como fator de
estresse na profissão, conforme revelam as respostas a
seguir: A falta de tratamento pessoal. Vejo muitos psicólogos
que atuam na profissão e que não se tratam. Isso gera estresse”,
A natureza da profissão; quando o psicólogo não está habili-
tado para uma tarefa, seja por ele não estar em supervisão e/
ou tratamento ou falta de conhecimento”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo acerca dos fatores geradores de estres-
se na profissão do psicólogo clínico indica que os estres-
sores ocupacionais vêm se alterando com o passar dos
anos e a partir de uma nova inserção do psicólogo clíni-
co em espaços profissionais que transcendem as frontei-
ras do consultório. Ademais, os estressores ocupacionais
não derivam de uma única fonte, mas estão localizados
no contexto do trabalho, organizacional e no ambiente
externo ao trabalho. Assim, intervenções eficientes pre-
cisam ser pensadas sob a perspectiva do indivíduo, da
organização e das dimensões do contexto mais amplo.
Sob a perspectiva dos profissionais, pode-se pen-
sar no desenvolvimento de estratégias de enfrentamen-
to que se mostrem efetivas e que auxiliem a manejar os
possíveis estressores da profissão. Tal medida poderia ter
efeitos assertivos se fosse colocada em prática já na for-
mação inicial do psicólogo, de forma a melhor preparar
o aluno para dar conta das reais demandas que se apre-
sentam no campo prático da profissão. O contato com
as reais circunstâncias da vida prática, durante o período
de formação, pode auxiliar a aliviar as tensões futuras da
profissão na medida em que o aluno comece, desde o
início da sua formação, a preparar-se para o manejo dos
estressores ocupacionais. Nesse sentido, as instituições
formadoras podem estreitar as distâncias entre teoria e
prática.
No âmbito das organizações, pode-se pensar no
desenvolvimento de competências de lideranças como
forma de melhor preparar os supervisores para o geren-
ciamento de suas equipes, sensibilizar a instituição para
a importância da valorização do trabalho do psicólogo
como forma de qualificar o atendimento do usuário do
sistema de saúde. Ainda, sob a perspectiva da melhor in-
serção dos psicólogos clínicos às peculiaridades do con-
texto institucional em que atuam, parece ser igualmente
importante pensar em formas de preparar os profissio-
nais para a gestão de conflitos e o trabalho de equipe.
No que concerne aos espaços externos à organização,
este estudo mostrou que a redução dos estressores na
ocupação dos psicólogos clínicos requer que se pense no
desenvolvimento de políticas públicas que privilegiem o
bem-estar dos seus profissionais, o que envolve a mobili-
zação da sociedade, do poder público e, prioritariamen-
te, da categoria destes profissionais.
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